BREVE LUZ DE UM TEMPO BREVE
Lílian Maial


O muro que se ergue sorrateiramente,
barreira entre o agora e o esquecimento,
constrói, de pronto, a morte sólida,
sentida no peso das pálpebras ou no fascínio do sono.

O abismo que se abre a teus pés
te questiona o destino, o caminho,
o rumo entre as pedras.
E vem o santuário de lembranças,
em lapsos insanos,
assombrar o espelho e a ampulheta.


O que te falta são os risos e a inocência
de um bem-estar de certezas e gestos simples,
que não recendem a pó de pedra ou argila.
O que te cabe é a medida exata do leito,
onde deixaste o momento escapar.

O que fustiga é a noção da hora próxima,
descobrir que tanto adiaste a vida
(para um depois, que foi ontem),
que te perdeste do atalho,
distraído com o olhar nas coisas do mundo.


A existência conta os minutos,
e a poeira recobre lentamente os versos.
Já não se enxerga a lua do poema.


Uma porta no tempo te mostra
que todo o instante é passado,
e que, se não o vives,
ele se esvai,
apagando como os tantos rostos
que já amaste mais que tudo,
e que, agora, quase nada.


Não! Não quero ser mais um rosto do passado,
se desfazendo na bruma do esquecimento!

A palavra resiste na pele e na garganta.
Sente o cheiro da poesia e embriaga-te!

Sente o gosto do medo e cospe-o!

O tempo corre sob teus pés,
descalço de dúvidas ou hesitações.
Alçar vôo talvez seja tua única razão.

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