RESGATE
RESGATE
Lílian Maial
Ele me pagou,
tintin por tintin, o que me devia.
Não me deixou nem o saldo devedor.
Pagou cada lágrima rolada
e cada choro preso.
Pagou,
e pagou com juros,
as noites que rolei na cama,
as horas que contei no tempo,
as dores do silêncio.
Pagou sim,
e pagou dobrado,
todo o calor petrificado
nesse meu peito calcinado.
Pagou o esquecimento,
a chuva,
a música, que fingia não saber de cór,
o sorvete preferido,
o nome do garçon,
aquele, o fornecedor dos guardanapos rabiscados,
onde imprimia poemas de espera.
Ah, ele me pagou,
fez questão,
e tão em dia,
apesar de já ter-lhe, há muito,
perdoado a dívida.
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