O Feio
Escondo o rosto não sei do quê
Revejo meu reflexo escondido no espelho
Assombração que não se crê
Reflexo maldito de olhos vermelhos
Perco-me em pensamentos obscuros
Revelando aos poucos meu rosto deformado
Cicatrizes escondidas por um manto escuro
Rosto de besta, animal já marcado
A água, sei que a água lava o sangue
Mas minhas mãos jamais
Sei que mesmo que a ferida estanque
Minha mão suja para sempre e mais
Vejo já meu rosto inteiro
Que poucos viram e muitos detestam
Penso que sou feio, sou feio
Meus instintos me confessam
Continuo sempre nessa imundice
Eu impresso em todos os jornais
Escondido do mundo em sua idiotice
Sou eu ali, o imundo, sou eu e ninguém mais
O assassino, o estuprador, o bandido
Escondido nessa carapaça de homem
Escondido da sociedade, escondido
Que minha mulher chama de bom homem
Tão feio na imagem do espelho
Marcado como animal que sou
Porém confesso que os olhos vermelhos
Me divertem nesse rumo que vou
Passo a mão na barba feita
E no espelho vejo minha mulher vindo
Me abraça por trás satisfeita
Peca inocente me olhando no espelho: "Lindo, lindo."