Além das Horas
Por ora deixemos o passado
Guarde estas almofadas velhas
De vermelho desbotado
Deixe as velhas canções de lado
Os talheres de prata desgastados.
Salto por cima do colchão
Entreolhos olho o espelho
Que tanto nessa vida procurei
Que por ti lágrimas derramei
Jaz aqui diante de mim mesma
O reflexo da minha fronte
Na córnea límpida celeste.
E onde eu me encontro em seus olhos
É onde comprazida estarei.
Veja embaixo da minha cama
Quantas poças ali acumulei
Presas em velhas garrafas alcóolicas
Cujas nunca mais eu beberei.
Mudaram as estações e as cores
Mas permaneceram as mesmas dores.
Nasceram as costumeiras flores
Que se destinavams aos mesmos amores.
Saltei por cima do minuto
E andei um passo adiante.
Larguei as taças embriagadas
Larguei a solidão das escadas.
Larguei um pouco a minha testa
E deixei a luz entrar pelos olhos.
A mesma estação que permanece
Não é a mesma, é apenas ilusão
Ora vento esfria e ora aquece
E uma hora ela certamente padece.
Mas aqui não mais fenecerei
Aqui não mais torturarei
A minha eterna expectativa.
Aqui em brando silêncio
O roxo dos meus braços curarei.