Nudez na tarde..

Ontem á tarde,

fechei portas,

cerrei entradas,

e sem alarde,

peguei vias mortas

desci estradas,

tomei escadas,

rumo ao porão...

Buscava um vulto,

leve animação

que denunciasse

um verso oculto,

nota,breve canção...

Algo,

que num passe,

desnudasse a alma

da tarde,e a revelasse..

Mas,a tarde fria

Era estranha e calma,

e se recolheu levando a poesia.

Foram a lugares profundos,

meandros tão escuros,

que lá não pude chegar.

Retomei o caminho do mundo,

Então,dei passos obscuros.

Hoje não é dia de cantar!

Que o silêncio desça,

e toda me envolva.

Que meu cantar emudeça,

até que a tarde mo devolva.

Enquanto isso,

trabalho as flores,

cultivo hortas,

amo, reparto carinhos...

Sem compromissos,

sem versos, sem rimas, estertores.

Mas... deixo abertas,comportas,

janelas e portas,

aberto o coração.

Quem sabe, a poesia,

não brote do chão,

no corpo da vida?

Regada, a suor e sangue,

talvez num piscar,

no orvalho do pranto,

ela retire o véu

e... se deixe encontrar!