Não...
três letras e entre elas
um mundo vazio,
torto, disforme,
como arame farpado...

Não...
nada dará certo
nenhuma promessa será cumprida
sua alma não será salva
muitos ainda lhe mentirão
um amor doirado e sem valor.

Penhore todas suas afeições
e perca o bilhete de resgate...
melhor deixar a voragem apagar seus traços
mastigar a memória e cuspi-la
bagaço de cana.

Nada neste não que nega
é certo ou errado
desacerto
o fim de tudo é um torcicolo
corpo cansado, alma refém.

Enquanto isso, nalguma praça
alguém medita diante de um saco de pipocas
quanto tempo ainda lhe resta
antes da morte chegar.

Não...
não medite, não sonhe, não reze
não - três letras - faça nada
talvez, quem sabe, a sombra passe
sem deixar seu rastro de lesma.

E aquelas velhas cartas de amor,
queime-as todas ou emoldure-as
na parede mais distante da sua caverna...

Desacertadamente saiba
que a esperança fretou um avião para China
e agora anda de bicicleta
e tem os olhinhos estreitos.

Assim, ela não nos vê, não nos assombra
feliz idéia!
Entregues ao desacerto que nos resta
acertamos em cheio
a dor de sabermos um pouco mais ou quase nada.