OS PÉS

Ponhamos em nichos dourados,

Como estátua de cintilante metal,

Nossos pés, duramente torturados,

Por instrumento de efeito letal,

O sapato que julgamos diadema

Para ornar esse par de abnegados,

Que depois de força suprema

Para suster corpos desengonçados,

Presos em finas ou grossas meias

Lembrando, às vezes, coador de café,

Ouvem palavras que tecem teias

De intriga, nomeando-os pai do chulé.

Grandes ou pequenos eles têm encantos,

Pois, na história, são símbolo fálico,

Reverenciados em festins e cantos

Com verso livre ou sáfico.

Louvemos, pois, com bela sonata,

Sem hipocrisia e sem preconceitos

Esta criação seja ela pé ou pata,

Sustentáculo dos pilares perfeitos,

As pernas que a natureza declara

Que foram feitas para correr, andar,

Tenham pele escura ou pele clara

Necessitam das bases pra não rastejar.

15/08/04.