Cantos de Maldoror
Cantos de Maldoror
A Isidore Ducasse, Cláudio Willer, e Circe
“E para aquele que provar que eu estou mentindo eu tiro o meu chapéu” Raul Seixas.
“O Niilismo está à porta: de onde nos vem este mais sinistro de todos os hóspedes?” Nietzsche.
“Ó Noute imensa pela imensidão / Recebe em Ti a minha Confissão” Ângelo de Lima.
Leitor, talvez queiras que eu invoque o ódio,
Porém, sinto que não estou possuído pela raiva!
Mesmo assim arranco a máscara de sua cara traidora e cheia de lama!...
Que me importaria uma legião de tempestades?
Golpearei tua carcaça oca,
Raça estúpida e idiota!
Poderia, costurando tuas pálpebras com uma agulha,
Revelar inteiramente a nobreza poética de sua alma!
Ah! Que sua ilusão se prolongue até o despertar da aurora!...
Sigo como um bêbado, através das catacumbas da vida,
De quando em quando levantando meus olhos melancólicos,
E vejo a morte com a intenção visível de povoar túmulos!
Ó céus! Como alguém pode viver,
Depois de haver experimentado tantas volúpias?
Enxerga, ó afogado! É o quanto basta!
O que se dizem dois corações que se amam?
Sinto meu crânio mergulhado em uma tina de carvões ardentes!
Sinto minha alma encadeada ao ferrolho de meu corpo!
Aí esta a louca! Deixa escapar retalhos de frases...
Vejo escrita uma linguagem simbólica que não posso decifrar!
Doravante, o desespero se nutrirá da tua mais pura substância!...
Leitor, não passas de um miserável!
Alma entregue em um momento de esquecimento...
Sou o Grande Todo Poderoso!
O combate será belo, eu, só, contra a humanidade!
Haverá em meus cantos uma prova imponente de força!
O império da razão será substituído por essa vingança feroz!...
Estou sujo, os piolhos me roem...
O estiolamento progressivo, a solidão do corpo e da alma
Me fizeram, por meio de artimanhas, deixar reconquistar a liberdade!
Procedo ao aniquilamento intermitente das faculdades humanas,
Mas a justiça ainda não me pegou em flagrante delito,
E sou Maldoror! O Mal, a dor! O Horror! Um outro ao monte da morte!