[Vaga Estrela Solitária]
[A você, é claro]
Diferente de você, a minha dor de “não sei o quê”
não vai virar a esquina não,
ela marcha atrás de mim, como um cão doentio
que não me pertence,
ou eu não quero que me pertença,
ou não sei que me pertence —
dá no mesmo, pois, alheio a minha vontade,
esse cão tristonho escolheu-me,
apegou-se a mim como uma sombra.
"Não sei o quê" não é um nome para essa dor,
para esse esvaimento gotejante,
para esse olhar impreciso lançado
sobre uma longa trajetória percorrida,
percorrente ainda...
E adiante dos meus passos — o quê?
O Nada, essa vaga estrela solitária
na extensão infinita de uma noite escura.
[Penas do Desterro, 14 de abril de 2006]