IMIGRANDO as BOTAS

Não serei o arquiteto de chão funéreo

cultivando esqueletos na calçada.

Sou o viajante transbordando areia,

o navio adormecido no bosque de pedra.

Saio na rua, trajando o manto dos cemitérios,

entre maremotos de carne das raças

e a degradação imposta às árvores.

Abre-se o ar em chaga de sangue incendiado

que vai se o alimento dos homens vegetais.

O garanhão é fogoso trepa até o osso

na solidão passeia a navalha no pescoço.

Vou, imigrando as botas,

pela loucura desfraldada nos tempos,

e todas as palavras e todos os livros

trazem a lógica das atrocidades

(1.979)