Enquanto o mar
abraça insistente a areia
em um beijo que os séculos
abençoaram: amém!

Da janela insone, eu conjugo
os tempos verbais da minha existência...
passado, presente, futuro...
onde só a brasa do cigarro acesso
lança luz
sobre as decididas trevas

As cinzas do Reveillon
ainda queimam, adormecidas...
bendita seja a santidade da mentira!

Ao horizonte que já não vejo
meia-noite, ventre e escuridão
estendo a mão, pálida guia,
grito que se perde na imensidão

O mundo despedaça-se em cacos
cactos
perfumada flor
e um deus, bêbado e depravado
recita o salmo do que não sou.

Escrito à noite, na praia de Ondina.
Janeiro de 2009, Salvador - Bahia.