Par-A-line. 12/01/09
Sou um pequeno beija-flor, perdido em uma savana
acalentado apenas pelo vento de suas minúsculas asas.
Frágeis, débeis, e ainda assim minhas queridas asas.
São elas, que me mantêm por alguns segundos acima de tudo.
Eu amo-as do tamanho que posso, sem nunca reclamar.
Um cachorro avacalhado teima em voltar para seu dono,
seu amor é para sempre irrevogável. Por isso é um cachorro.
Um gato arisco sofre menos, pois nunca cai de costas.
São eles pequenos e de estimações.
É isto o que eu sou! E tenho medo de dizer...
O que penso é tão ridículo, feio, lindo e imperfeito.
Tenho consciência que não sou o melhor que posso.
Ouço argumentos e contra-argumentos na direção errada
o tempo todo. Sou a soma de todas as coisas invisíveis.
Em minhas mãos, tenho o perfume de uma rosa visível.
Revirei a fogueira com palha e fui consumido. Fui alvo de
um torpedo no coração irremediável e incorruptível, e adorei...
Sou tão ridículo que chego a ser quase invisível.
Sinto pena dos cachorros, e sinto dó dos gatos,
e queria ao menos ser-los por um momento.
Sou o anseio desesperado da sutileza visão de um beija-flor.
Eu poderia ser uma coisa bem melhor, inclusive até tentei.
Fiz planos, teci caminhos, busquei atalhos, e fiz questão de
não segui-los. Tentei confundir a raiz da inevitável e
incontrolável certeza... Sou areia ao vento de um passado
mês de março que entra em seus olhos, para sempre ardentes.
Nos encontramos por aí e senti o velho frio nas espinhas,
desdobrei o tapete vermelho e mais uma vez me curvei...
O fim que levo nos sonhos está tão longe do real,
tão longe, tão distante de sequer ser talvez o mais certo.
Essa contradição com que lido amarga todo meu peito,
parece ser tão insaciável, e isso me desespera ainda mais.
Ah... Que cheiro teria um beija-flor? Queria ao menos segura-lo
e aspirar todo o seu aroma. E assim, ter alguma esperança ou
luz com que me irradiar. Sou tão simples, e ao mesmo tempo
me sinto tão complexo. Pareço uma conta matemática ilógica
com um resultado infinito. Sou tudo e também nada. Sou sensato
e idiota! Sou um flagelo escuro, a procurar o bem que se pode
quem sabe existir flexivelmente sob essa luz vermelha.
Se isso fosse ao menos possível...
Aliás, todos meus devaneios vem exatamente deste possível.
Estreitei todos os caminhos e rasguei todos os sonhos...
Eu dizia: Não! Isso é impossível! E logo o que parecia ser
impossível mesmo era seguir sem você. E no entardecer acabava
ajoelhando-me diariamente sob a dor da possibilidade amorosa.
Nego a dor e no entanto sofro. Penso em buscar um lugar distante,
longe de tudo... e caio na possibilidade que a natureza espalha
de estarmos sempre sob o mesmo céu. Talvez você nem esteja
mais a minha espera. Talvez tenha partido sem mim... Mas, eu
sei que estaremos para sempre sob o mesmo horizonte.
Enfim, é assim que me sinto sem você dia-pós-dia. Te amo.