Dorival

Pro homem sentado.

Seus pés calejados;

já tanto andaram,

hoje descansam.

O cigarro perdido

nos últimos fios

de cabelo encaracolado

nos vértices de

seu crânio piolhento.

Viola na mão,

um copo de pinga.

Músicas trovadas, antigas,

dolorosas como sua unha

encravada, como as garras da sociedade

em suas costelas já tão fatigadas.

Não segue linhas,

estradas, tampouco,

um deus invisível.

(Ai, que me queima a binga!)

Cante, cante,

meu amigo.

Parceiro. Desolado à beira do rio

e esquecido

às margens da sociedade.

Escorre o canto.

Discorre o conto

em gotas de saliva,

que banham meus olhos

à espera de uma

verdade tão mentida

todos os dias de

nossas vidas iguais.

Espelho de mim -

pro homem sentado.

Sou eu, talvez Cristo.

Talvez seja Cristo

o poeta,

ou o homem sentado.

Quem sabe,

um ser,

tão diverso do querer

e semelhante

a toda a gente.

Mundo pagão.

Sem limbo ou perdão.

Limpo, gritado.

Em maços e abraços,

somos deuses

neste inferno de humanos.

Raul Furiatti Moreira
Enviado por Raul Furiatti Moreira em 13/01/2009
Código do texto: T1382279
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