Dorival
Pro homem sentado.
Seus pés calejados;
já tanto andaram,
hoje descansam.
O cigarro perdido
nos últimos fios
de cabelo encaracolado
nos vértices de
seu crânio piolhento.
Viola na mão,
um copo de pinga.
Músicas trovadas, antigas,
dolorosas como sua unha
encravada, como as garras da sociedade
em suas costelas já tão fatigadas.
Não segue linhas,
estradas, tampouco,
um deus invisível.
(Ai, que me queima a binga!)
Cante, cante,
meu amigo.
Parceiro. Desolado à beira do rio
e esquecido
às margens da sociedade.
Escorre o canto.
Discorre o conto
em gotas de saliva,
que banham meus olhos
à espera de uma
verdade tão mentida
todos os dias de
nossas vidas iguais.
Espelho de mim -
pro homem sentado.
Sou eu, talvez Cristo.
Talvez seja Cristo
o poeta,
ou o homem sentado.
Quem sabe,
um ser,
tão diverso do querer
e semelhante
a toda a gente.
Mundo pagão.
Sem limbo ou perdão.
Limpo, gritado.
Em maços e abraços,
somos deuses
neste inferno de humanos.