SILÊNCIO

Eu calado

me reencontro sob

as minhas diversas faces,

de quem não consegue se multiplicar

para atender a todos os que me chamam.

Minha voz baixa

que ninguém escuta

é compreendida pelos que me amam,

ou por aqueles que não precisam me mastigar

para sentir o gosto de minhas palavras em suas bocas limpas.

A minha verdade nunca foi feita de mentiras,

mas eu já menti usando verdades,

porque ao contrário do que se pensa,

elas nunca machucam ou causam dor.

Eu vou continuar em silêncio,

falando o tempo todo

para quem quiser ouvir,

ou para quem souber esperar

pelo pássaro que ilumina todos os dias

o mar sem água que se tornou o céu da boca

da menina que me roubou o beijo que não era dela.

Eu vou continuar em silêncio,

porque ela precisa compreender,

e eu já não sei mais explicar

o porque de dois mais dois serem cinco,

ou o porque da ausência de vida num corpo tão vivo.

Respira! Inspira!

Isso basta por enquanto.