ALGEMAS DE BARRO

Acorrenta teu limite em vaso dourado

Estanca teus sonhos com o choro de teu pai

Cala tua voz, pois és ainda uma semente

Banha tua mente que hoje não chove mais;

Envaidece tua alma com aromas de rubi

Fortalece teu peito com desejos de ourives

Sustenta tua dor e eleva teu pranto

E chora por mim, por nós e por ti;

Contempla teu dia ao sereno da noite

E faz na cama um suplicio maior

Busca a aurora que a muito demora

E faz cárcere do teu próprio suor;

Enlaça tua sorte em devaneios pobres

Degusta da fruta presa ao sabor

Outrossim a rosa ligada ao perfume

Como a rosa da vida é presa ao amor;

Faz disso tudo alimento da alma

Conserva a prisão no íntimo do teu ser

Anseia o futuro, lamenta o passado

Que teu presente doente te faz viver por viver.