O PREÇO DO PROGRESSO

No coração do meu Brasil fecundo,
Cresceu São Paulo, forte e poderoso,
Se agigantando ante a visão do mundo
Que deslumbrado o vê crescer famoso...

Seus cafezais, perdidos na distância,
De orgulho enchiam o coração da gente,
Que de viagem pelas rodovias,
Vibrar sentia as emoções candentes.

Depois... a indústria surge, galopante...
Empobrecido o solo e não refeito,
Viu sucumbir no seio palpitante,
O mundo de verdor, pobre e desfeito...

Agora, ao percorrer suas estradas,
Tristonho vejo, a se perder de vista,
Desnudas terras, pobres, desmatadas,
Vítimas tristes de cruel conquista

Já não se vêem frondosos arvoredos,
A darem abrigo ao animal selvagem
Ou se curvando sobre os rios quedos,
A respirarem sua olente aragem...

Minh’ alma sente, então, a nostalgia
Que se espalha, além, pela planura,
Provindo, sempre, da monotonia
Dos eucaliptais, ganhando altura.

Saudade sinto do torrão distante
Da mata virgem que contorna os rios...
Do campo aberto, belo e verdejante,
A dar sustento aos zebus bravios...

Aqui a natureza geme e morre,
Em holocausto ao engrandecimento
De um Estado que subindo corre,
Como uma estrela para o firmamento...

Eis, afinal, o preço do progresso:
A natureza, mutilada, chora,
Sem esperança de obter regresso
Ao esplendor que desfrutara outrora!...


Março de 1962.
Antonio Lycério Pompeo de Barros
Enviado por Antonio Lycério Pompeo de Barros em 12/01/2009
Reeditado em 28/03/2009
Código do texto: T1380504
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.