FATALISMO
FATALISMO
Um dia podereis colher as rosas de vossos próprios jardins...
Um dia alguém acenará do outro lado da rua e vos dirá “Bom dia!”...
Um dia o expresso vai parar fora do ponto para embarcar um ancião...
Um dia podereis cruzar as avenidas sem temer balas perdidas...
Uma criança poderá sorrir compadecida de qualquer desconhecido...
As cadelas no cio poderão cruzar livremente pelos becos da cidade...
Os negros poderão exibir alegremente a moléstia racial dos brancos...
A liberdade poderá ser proclamada em paz na praça de Bucareste....
Mas vós estareis mortos de vergonha
no dia em que puderdes ostentar publicamente o gesto mais discreto
de como colher miniaturas de lua cheia nos ramos das videiras...
No dia em que esse chão, que é de pedras, for de estrelas...
No dia em que os canhões se transformarem em bicicletas de Pequim...
No dia em que a vergonha nacional
derrubar os seus muros de Berlim...
Ou já estareis mortos...
Definitivamente mortos...
Como morrem os pássaros...
Como morrem os poetas...
Como secam os jardins...
E se calam os profetas...
Como se exaure a esperança...
Como morrem as crianças
com suas almas desertas...
A. Estebanez