O MELRO
Linda canção entoaste,
Quando cheguei à janela.
Eram tais os teus gorjeios,
Que me senti Cinderela.
Afinal, querido melro,
Era à tua companheira,
Que querias agradar
Dessa formosa maneira!
À tarde vi-te a correr,
De preto, p’la relva fora.
Com teu biquito amarelo,
Apressado, ias embora.
Voltas agora a trinar
No meu jardim, ao sol-pôr.
Ao fechar a persiana,
Escuto o mesmo cantor.
Recordas-me o velho melro,
Que o Junqueiro celebrou,
Mas tua família é livre,
Enquanto a outra penou.
Tão perto da minha casa,
Vives feliz sem temores.
É o tempo da Primavera,
Pássaros e seus amores.