O último muro

Os olhos condenados ao escuro...

Noção de visão submersa!

Imerso no seu paletó de madeira...

Caminha para o desconhecido.

Sob as lágrimas de sua mãe.

Carregado pelo pai e irmãos;

Assistido pelos filhos e sobrinhos.

Pelos inúmeros parentes.

Por um turbilhão de amigos...

Coberto pelo inconcebível.

Tragado pelo imperceptível.

No inexplicável caminho.

Aquele último muro se fez entre ele e a gente.

Lenta e calmamente, uma vulgar estrutura solene...

As últimas flores lhe são lançadas...

Estão sobre o seu paletó.

Alguém se agacha com seu forte espírito.

Faz ranger seus cansados ossos.

Ajuda com os tijolos.

É o muro de seu filho...

Seu primogênito, um de seus amados.

Um de seus queridos.

Do alvorecer ao anoitecer...

Sempre... Lado a lado aos pais.

O ritual está selado!

O último tijolo compõe o muro.

É um local sagrado:

Cantigas, lágrimas.

Gestos... Gestos... Gestos!

Palavras...

E o muro encerra a despedida de sua existência.

De sua consciência.

De seu corpo.

Não encerra as lembranças.

Seu sangue, seus filhos, seus netos.

As memórias, os sonhos, as esperanças.

Está tudo coroado...

E então, diante meus sentidos molhados...

O vulgar muro e todo o túmulo...

Transformam-se em um florido jardim.

***

Em memória do Tio João.