PRECE REZADA
Rezei,
enquanto dormias,
com uma fé nunca sentida.
Pedi,
por mim, por Deus e por ti
para que a humanidade possa
acreditar um pouco mais em si mesma.
Fiz questão absoluta do silêncio,
Estavas dormindo. Lembras?
Assistias borboletas debaterem-se nas vidraças,
beija-flores em rota de mais uma colisão,
e águias rapinando outras presas.
E nem assim acordaste.
Dormias. Lembras?
Pedi
ao primeiro idiota que saiu às ruas
que retornasse lúcido pra casa.
Deste-me muxoxos,
viraste de um lado para o outro da casa
pressentindo que, só, me perdia
da tua lógica proximidade.
Assistias os rinocerontes invadindo os quartos
da sala pequena
quando um gnomo aparecia na tela.
E nem assim acordaste.
Lembras?
Pedi
pela milionésima vez que sobrassem seresteiros
neste país de pagodeiros.
Deste-me os ombros largos, quase bandeja,
para que tomasse o cadê da manhã
agora, quase muito frio.
E aflita acordaste
para assistir o meu olhar descansado a te olhar
sem compreender tantos pedidos feitos
enquanto te rezava
morta de sono.