Desventuras da Vida
Aventureiros ao mar,
solitários a navegar;
outros há pelo ar,
nas nuvens a flutuar.
Os andarilhos sem destino
em pacto com o desatino
e os solitários da multidão
vagando na contra-mão.
As montanhas são o ópio
desde o pólo ao trópico,
onde se busca um feito
imerso no ar rarefeito.
Nas selvas, homens famintos
perdidos nos labirintos,
anseiam com um porvir
de sorte para não sucumbir.
Em desertos escaldantes
também há itinerantes,
iludidos por miragens
em torturantes viagens.
Em um outro ambiente,
no gelado continente,
exploradores em banquisas
conduzem suas pesquisas.
Os desafios não são poucos
em oferta a certos loucos,
que tem no peito a ferida
dos inconformados da vida.
Em sua busca incansável,
com o espírito inabalável,
se entregam ao sofrimento
pela paz de um momento.
Contudo, toda a vida é assim
e ninguém escapa enfim
de escalar o seu próprio Everest,
em algum lugar, de leste a oeste,
na intimidade da sua alma,
onde toda inquietação se acalma.
Brasília, 25 de dezembro de 1999