A LOBA

Na floresta mais negra

e funda ela se esconde,

selvagem e indomável

fera.

Vive em solidão severa.

Pés no chão, mãos e unhas sujas

do barro de que é feita a sua

tapera.

Na casa pequena,

mais antiga que o tempo,

jovem quando velha, ela é o que é,

donzela-megera.

Arguta, olha e escuta,

cheira, prova e tateia.

Aquela que sabe, à luz da lua cheia,

pondera.

Desenterra e recupera

ossos desencarnados,

perdidos, cobertos de

hera.

Guardiã da história ancestral

e da alma

que venera, está à tua

espera

para atravessar a janela da quimera

e replantar

os bulbos da eterna

primavera.

Lina Meirelles

Rio, 07.01.09