Solo de Clarineta
 
Mais um janeiro me invade,
Já não toco o céu com a mão,
A antiga chama não arde,
Nem há carinho de irmão.
Antes que o amor se apague,
Peço à pálida paixão,
Quero ser manhã e tarde,
Ser outono e ser verão,
A sementeira de restos,
Verde flor no coração.
 
Suave é o sentimento
Que forma estrelas no chão,
Não há saudade ou lamento
Em minha letra ou canção,
Nem tampouco piedade,
Notícia de gestação.
Anjos que nascem da lápide,
Por receio ou solidão
Da humana divindade,
Vêm aos pares, dão-se as mãos.
 
Há solo de clarineta,
Roupas sujas no porão,
A ninguém será surpresa
Se o fim for compaixão.
Oito anos Casimiros,
Leminiscata ilusão,
Pudesse o tempo dar volta,
Soprando o mesmo canto,
Não acharia estação.

meriam lazaro






Imagem: flickr.com/photos/fernandofelix
Borboleta “Oitenta-e-Oito” (Diaethria clymena janeira)