Exilado

Seguindo pelo cinza

desta cidade,

acorrentado à loucura

dominante,

tropeço meus passos perdidos

na imensa saudade de ti.

Em meio a densas nuvens,

brancas e tóxicas,

deste meio ignorante,

minha vista

segue perdida

à procura de teus olhos

que nunca mais eu vi.

Ouço gritos, gemidos e choros,

ouço risos, tiros, estouros,

mas nem por engano

um suspiro teu,

ou notícias de ti.

Quero beijar-te,

abraçar-te,

falar-te,

mas por que arte

se nem mais sei

se estou por aqui?

O correio, outrora tão útil,

para mim não mais

há de sê-lo,

pois não me tem por remetente

e por mais que eu tente

procurar teu endereço

quem há de sabê-lo

neste mundo de perdidos?

Nem há mais tinta no tinteiro,

na pena, caneta ou impressora,

não há mais tinta alguma

nesta palheta opressora.

Cinza ficou o mundo inteiro!

Mas eu não desisto:

mesmo prisioneiro,

arrastado para longe daqui,

deixo em vermelho

sob meus passos

minha derradeira

declaração para ti.