ENTRE UM SONHO E OUTRO...
ENTRE UM SONHO E OUTRO...
Devo empreender uma viagem...
Mas não quero Londres e muito menos a Paris revisitada.
Lá as gentes são todas iguais a mim. Sangue bom à flor da pele
igual à minha ruim. Conheço a guarda real o big-bem e o jardim.
Como se não houvesse periferia...
Como se houvesse algum jardim...
Devo empreender uma viagem...
Para um pouco mais além da minha praça tropical.
E, quem sabe, alcançar os meus sem-sonhos não vividos
que sempre estiveram na feira dos sábados de minhas mãos.
Como se houvesse sonhos...
Como se houvesse mãos...
Devo empreender uma viagem...
E comprar alguma gleba nos alvos prados das nuvens
construir com minhas mãos os meus sem-sonhos já vividos
entre pedras de granizo com penugens numa casa de algodão.
Como se houvesse sonhos...
Como se houvesse mãos...
Devo empreender uma viagem...
Para conversar com meus anjos já bem mais envelhecidos
sobre como é ficar ou então nunca ficar a um passo do paraíso.
Esse é um dos meus sem-sonhos refeitos com minhas mãos.
Como se houvesse sonhos...
Como se houvesse mãos...
Afonso Estebanez