AS BARBAS DO ANO VELHO
Ontem lancei à água as barbas do ano velho
Com lamina inoxidável de fina textura
Deslizei por dentre as espumas de um rosto roto
Marcado pelas nervuras e valas abertas
De um ano conturbado pelas agruras da Caminhada
Mas é um rosto sereno, de olhar meigo.
Que acredita que o Ano Novo se abrirá com luzes por entre as nuvens
E iluminará todo o nosso Vale e as nossas Vidas com cores vivas e marcantes
Muitos Sonhos foram lançados ao ralo
E os via naufragando em redemoinhos na pia do banheiro
Olhei no espelho e ali não transparecia o que ia ao coração
Pensei, consigo enganar muito bem a mim mesmo, e sorri.
O coração se agita, reclama, se enfurece, entristece.
Mas o rosto impassível representa profissionalmente,
Um trágico teatro que é a Vida.
Encobre dores que no peito se acumulam,
Ausências que nunca mais serão preenchidas.
Mas meus olhos não perdem o brilho
Pois é ele que me ilumina o caminho.
A Vida me trouxe este brilho no olhar
Este mesmo brilho será levado feito lamparina
No Caminho da Morte.