AS BARBAS DO ANO VELHO

Ontem lancei à água as barbas do ano velho

Com lamina inoxidável de fina textura

Deslizei por dentre as espumas de um rosto roto

Marcado pelas nervuras e valas abertas

De um ano conturbado pelas agruras da Caminhada

Mas é um rosto sereno, de olhar meigo.

Que acredita que o Ano Novo se abrirá com luzes por entre as nuvens

E iluminará todo o nosso Vale e as nossas Vidas com cores vivas e marcantes

Muitos Sonhos foram lançados ao ralo

E os via naufragando em redemoinhos na pia do banheiro

Olhei no espelho e ali não transparecia o que ia ao coração

Pensei, consigo enganar muito bem a mim mesmo, e sorri.

O coração se agita, reclama, se enfurece, entristece.

Mas o rosto impassível representa profissionalmente,

Um trágico teatro que é a Vida.

Encobre dores que no peito se acumulam,

Ausências que nunca mais serão preenchidas.

Mas meus olhos não perdem o brilho

Pois é ele que me ilumina o caminho.

A Vida me trouxe este brilho no olhar

Este mesmo brilho será levado feito lamparina

No Caminho da Morte.

Robertson
Enviado por Robertson em 03/01/2009
Código do texto: T1365956