COMPANHEIROS NO SILÊNCIO
Amigo querido.
Não sei o seu.
Mas o meu silêncio não desperta ninguém.
E eu sei por que.
O mundo de hoje precisa de barulho, muito barulho,
de gente agitada,
de otimismo vazio,
de mentiras disfarçadas em verdades amenas,
músicas ensurdecedoras,
imagens de forte colorido
e de preferência movimentadas por luzes chocantes,
enfim, quer viver num céu de nuvens
que faça esquecer a barra da vida
e da crueldade que vigora ao redor.
Nosso silêncio quer o contrário,
quer verdades - mesmo que doam,
não quer esquecer nada, nem quer se iludir,
quer imagens suaves e transparentes,
quer amor na surdina do encantamento,
quer beijos molhados de lealdade,
quer Bethovem, Mozart, Liszt
e, principalmente,
quer os pés no chão.