O MORADOR SEM LIMITES
- - aos moradores de ontem e do escuro -
Chegada é a hora
do prazer
enquanto não mais sonho.
[Tento!]
Dentro de ti há um ser vivo,
inconsciente, irrequieto, moderado,
que faz deste momento uma só solenidade;
teus olhos,
em tons de paz-quietude,
pedem clemência e calma
para que a espiritualidade tome a forma
unida também dos corpos.
Teu cheiro sobre o cheiro do meu corpo
parece de bicho-macho,
quase apressado.
Tua pele, sob e sobre minha pele,
[umedece-me]
leva-me, involuntária,
a movimentos.
[Ardo!]
Dentro de ti há um ser vivo,
inconsciente, irrequieto, moderado,
que faz deste momento uma só simplicidade;
teu corpo,
no dom de querer mais-e-mais,
exige artes e atletismos
para que as palavras mais articuladas
sejam exatamente fáceis.
Aconchegado à mim por horas e horas
qual um fauno a possuir-me
compulsivo
por outras tantas mais
a submeter-me
caprichosa
aos teus respiros
tão ouvidos.
[Devasso!]
Dentro de ti há um ser vivo,
inconsciente, irrequieto, moderado,
que faz deste momento uma só unanimidade;
tua alma,
de tanto entrar-sair-voltar-e-ficar,
agora desavergonhada
exige as sem-vergonhices mais tolas
do meu corpo nu em folha.
Passada é a hora
do prazer
quando não mais te escuto.
[Aflijo!]
Dentro de ti há um ser vivo,
inconsciente, irrequieto, moderado,
que faz desse momento uma só inconsciência;
tua inocência,
com ar de amor em bem-estar,
achada na segunda vista
escandaliza-se com as sombras nas paredes
[siamesas]
e apaga o filete de luz do quarto.
Chegada é a hora
da separação,
meu morador do ontem.
[Licença!]