BELA MANDIL
(com um forte abraço ao poeta Manuel Madeira, um dos organizadores da grande manifestação de jovens pela liberdade em 23 de Março de 1947,em Bela Mandil, Olhão, reprimida a tiro pela polícia salazarista)
Sulcando rios velozes, transpondo agrestes serranias,
calcorreando planícies de sol em fogo,
transitando em ruelas escusas ou amplas avenidas,
chegaram os jovens em ondas de alegria,
transportados no vento, guiados por canções,
atraídos entre si como irrequietas partículas
do mesmo ser juvenil,
dando-se as mãos em busca do amor e da paz
que as sementes exigiam para florescer,
erigindo o direito de criar, em conjunto,
as alvoradas sem medo.
Bailaram entre as flores e as pinhas verdes,
cantaram a amizade de olhos húmidos,
entoaram hinos à vida plena e à juventude em festa,
plantaram sorrisos entre as moitas e os silvados,
convidaram o Sol a resplandecer
sem temer aquelas nuvens cinzentas de espessos rancores.
Desfraldaram as bandeiras do amanhã
e as giestas do caminho reverdeceram
com o respirar da liberdade.
Mas o ódio espreitava entre os espinheiros
que rastejavam nas bermas.
Jovens a cantar? Tragam já as mordaças!
Jovens a dançar? Tragam os carros e as algemas!
Jovens a protestar? Depressa, tragam as metralhadoras!
Jovens a dispersar? Atirem a matar!
À bastonada, à força de coriscos e tiros de rajada,
os jovens desfizeram-se em lágrimas de raiva
que empaparam para sempre o chão de Bela Mandil.
Mas nenhum deixou cair por terra a sua esperança,
todos carregaram nos bolsos e na boca as sementes da madrugada.
Depois… muito tempo depois, os jovens continuaram jovens,
embora mais curvados e dolentes da dureza dos embates.
Aqueles que tombaram continuam connosco
acantonados na nossa memória.
Juntem-se agora a nós os jovens que acabam de chegar.
Vamos, todos à uma, por vales, por montanhas,
por veredas, por vielas ou azinhagas,
vibrando, caminhando e construindo
a grande estrada rumo ao infinito.
(com um forte abraço ao poeta Manuel Madeira, um dos organizadores da grande manifestação de jovens pela liberdade em 23 de Março de 1947,em Bela Mandil, Olhão, reprimida a tiro pela polícia salazarista)
Sulcando rios velozes, transpondo agrestes serranias,
calcorreando planícies de sol em fogo,
transitando em ruelas escusas ou amplas avenidas,
chegaram os jovens em ondas de alegria,
transportados no vento, guiados por canções,
atraídos entre si como irrequietas partículas
do mesmo ser juvenil,
dando-se as mãos em busca do amor e da paz
que as sementes exigiam para florescer,
erigindo o direito de criar, em conjunto,
as alvoradas sem medo.
Bailaram entre as flores e as pinhas verdes,
cantaram a amizade de olhos húmidos,
entoaram hinos à vida plena e à juventude em festa,
plantaram sorrisos entre as moitas e os silvados,
convidaram o Sol a resplandecer
sem temer aquelas nuvens cinzentas de espessos rancores.
Desfraldaram as bandeiras do amanhã
e as giestas do caminho reverdeceram
com o respirar da liberdade.
Mas o ódio espreitava entre os espinheiros
que rastejavam nas bermas.
Jovens a cantar? Tragam já as mordaças!
Jovens a dançar? Tragam os carros e as algemas!
Jovens a protestar? Depressa, tragam as metralhadoras!
Jovens a dispersar? Atirem a matar!
À bastonada, à força de coriscos e tiros de rajada,
os jovens desfizeram-se em lágrimas de raiva
que empaparam para sempre o chão de Bela Mandil.
Mas nenhum deixou cair por terra a sua esperança,
todos carregaram nos bolsos e na boca as sementes da madrugada.
Depois… muito tempo depois, os jovens continuaram jovens,
embora mais curvados e dolentes da dureza dos embates.
Aqueles que tombaram continuam connosco
acantonados na nossa memória.
Juntem-se agora a nós os jovens que acabam de chegar.
Vamos, todos à uma, por vales, por montanhas,
por veredas, por vielas ou azinhagas,
vibrando, caminhando e construindo
a grande estrada rumo ao infinito.