ALTO-FORNO
(Aos antigos companheiros da Siderurgia)
Olhos esbugalhados
com os mais de mil graus que o ar nos cospe,
injectamo-lo nós pelas tubeiras
junto com o nosso sangue regando as cargas
da ganga de minério que expelimos
com a nossa tosse funda a espirrar castinas.
Explodem-nos as têmporas como escórias ferruginosas
a oxidar o carbono que nos engelha a pele
e a endurece como ao aço, que corre liquefeito
pelos canais de barro refractário
para a laminagem,
numa gusa galopante a transpirar os gases
rubros do nosso sangue,
altiva como se nós não fôssemos também, tal como o coque,
imprescindível matéria para a sua têmpera.
A sangria do alto-forno, a cada meia-hora,
é também a sangria das nossas vidas.
Respiramos o sufoco, que nos desespera e enfurece,
somos brasas humanas a arder por fora
e a crepitar por dentro,
mijamos sangue na escuridão das noites silenciosas
mas, ainda assim, por entre os nossos dedos
desabrocha a esperança dum porvir longínquo
aonde unicamente o sonho nos conduz.
(Aos antigos companheiros da Siderurgia)
Olhos esbugalhados
com os mais de mil graus que o ar nos cospe,
injectamo-lo nós pelas tubeiras
junto com o nosso sangue regando as cargas
da ganga de minério que expelimos
com a nossa tosse funda a espirrar castinas.
Explodem-nos as têmporas como escórias ferruginosas
a oxidar o carbono que nos engelha a pele
e a endurece como ao aço, que corre liquefeito
pelos canais de barro refractário
para a laminagem,
numa gusa galopante a transpirar os gases
rubros do nosso sangue,
altiva como se nós não fôssemos também, tal como o coque,
imprescindível matéria para a sua têmpera.
A sangria do alto-forno, a cada meia-hora,
é também a sangria das nossas vidas.
Respiramos o sufoco, que nos desespera e enfurece,
somos brasas humanas a arder por fora
e a crepitar por dentro,
mijamos sangue na escuridão das noites silenciosas
mas, ainda assim, por entre os nossos dedos
desabrocha a esperança dum porvir longínquo
aonde unicamente o sonho nos conduz.