CHINA

Já que nenhum poeta desta casa
Tanger a lira quis em teu louvor,
Venho fazê-lo com o peito em dor,
Numa saudade que me punge e abrasa...

Saudade do meu cão, do meu “Perigo”,
Ressuscitado um dia em minha pena,
Quando passada era uma dezena
De longos anos que se fora o amigo...

Por isso, agora, que te vejo viva
Viva e peralta, inteligente e amiga...
Alegre como o sol que doira a espiga,
Como a tigresa, destemida e altiva...

Agora, que ainda és uma alvorada...
Que és graça, singeleza... Que és carícias
Ocultas, sorrateiras, nas delícias
Dessa pelúcia negra e acetinada!...

Venho cantar-te nestes pobres versos,
Enquanto vais correndo o apartamento,
Rosnando contra a chuva ou contra o vento,
Ou contra os barulhinhos mais diversos

Enquanto és viva e caminhar procuras
No mundo dos caninos, qual rainha,
Cercada de atenções e de ternuras...
(Aqui, ninguém te odeia ou te espezinha)

Lá fora, os outros cães, escorraçados
Vivem. Sem teto... À chuva... Sem comida...
Sem dono... À mingua vão levando a vida,
Famintos se arrastando, amargurados...

Por isso, “CHINA”, és desta casa, prata.
Tu és da tua espécie uma princesa.
Corre em teu sangue azul a realeza
Do “pequinês” altivo e aristocrata...

Janeiro de 1963.
Antonio Lycério Pompeo de Barros
Enviado por Antonio Lycério Pompeo de Barros em 30/12/2008
Reeditado em 28/03/2009
Código do texto: T1359979
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.