Sombras dentro de sombras
No colorido de um quadro,
Magistral, magnificamente pintado,
Escondem-se sombras dentro de sombras,
Ecos de um distante passado,
Em uma figura pintada discretamente,
Quase escondida, mas com a face do todo a destoar.
É tão simples nos deixarmos levar
Pelas alegres cores da bucólica paisagem,
Pelo sorriso eternamente congelado
Dos retratados em primeiro plano...
E ignoramos a face cheia de desespero,
Vincada pelo desengano,
Da diminuta mulher perdida ao fundo,
Que o nada está a mirar...
Sombras dentro de sombras...
É o que a face da mulher está a mostrar,
Enquanto tudo mais é beleza e alegria...
Apenas um atento olhar percebe a melancolia
Expressa por sua postura,
Antes da face analisar....
A face de uma mulher anônima na história,
Cujo o tempo não guardou a memória,
Mas continua ali, em segundo plano,
A existir a margem da alegria pelos outros demonstrada,
Pois é apenas um elemento de fundo...
Assim é, infelizmente, nosso mundo:
Vemos o que queremos, várias vezes,
Sem por trás de sorrisos posados olhar...
E assim deixamos de perceber,
De encarar,
O sofrimento daqueles que são figurantes
No quadro de nossas vidas...
É assim que sombras continuam dentro de sombras,
Sendo jamais varridas...
Persistindo no desespero,
Desengano e desilusão
Daqueles que, em segundo plano,
Quase que invisíveis,
Não contam com ninguém
Para estender-lhes a mão
E auxiliarem, com um simples sorriso, as suas sombras dissipar.