Sombras dentro de sombras

No colorido de um quadro,

Magistral, magnificamente pintado,

Escondem-se sombras dentro de sombras,

Ecos de um distante passado,

Em uma figura pintada discretamente,

Quase escondida, mas com a face do todo a destoar.

É tão simples nos deixarmos levar

Pelas alegres cores da bucólica paisagem,

Pelo sorriso eternamente congelado

Dos retratados em primeiro plano...

E ignoramos a face cheia de desespero,

Vincada pelo desengano,

Da diminuta mulher perdida ao fundo,

Que o nada está a mirar...

Sombras dentro de sombras...

É o que a face da mulher está a mostrar,

Enquanto tudo mais é beleza e alegria...

Apenas um atento olhar percebe a melancolia

Expressa por sua postura,

Antes da face analisar....

A face de uma mulher anônima na história,

Cujo o tempo não guardou a memória,

Mas continua ali, em segundo plano,

A existir a margem da alegria pelos outros demonstrada,

Pois é apenas um elemento de fundo...

Assim é, infelizmente, nosso mundo:

Vemos o que queremos, várias vezes,

Sem por trás de sorrisos posados olhar...

E assim deixamos de perceber,

De encarar,

O sofrimento daqueles que são figurantes

No quadro de nossas vidas...

É assim que sombras continuam dentro de sombras,

Sendo jamais varridas...

Persistindo no desespero,

Desengano e desilusão

Daqueles que, em segundo plano,

Quase que invisíveis,

Não contam com ninguém

Para estender-lhes a mão

E auxiliarem, com um simples sorriso, as suas sombras dissipar.

Zannah
Enviado por Zannah em 29/12/2008
Código do texto: T1358805
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