Poema de dois fins - parte 1

Depois de alguns amores complicados

De tanto vazio no peito e rompimentos delicados

Eles se encontraram sem saber de que jeito

E mesmo estando milhares de quilômetros longe

Veio aquele bálsamo encher o peito

Ele não sabia o que tinha acontecido

Sentia o chão correr e voltar

Ela já tinha até esquecido

Que aquilo podia só era machucar

Ninguém deu atenção aos riscos

Tudo o que importava era o sentimento

Ela não conseguia ver-se juntando os ciscos

Molhando-se em lágrimas de decepção e sofrimento

Se éramos apenas um, e se concordamos sobre isso

Mesmo que sem palavras ou contrato

Agora então somos um e meio?

E de nada valeu o meu retrato?

Em qual momento eu não mereci respeito?

Em que hora eu deixei de valer?

Articule uma resposta sem defeito

Antes que eu decida desaparecer

Os olhos dele eram um poço fundo

Brilhando em dor líquida

Quando foi que ela deixou de ser o mundo?

A resposta não vinha nem lívida

Ele lembrava que com a segunda tinha uma certa harmonia

Até esboçou um sorriso escondido ao lembrar-se do primeiro abraço

E logo deparou-se com a feição sombria

Daquela que não merecia nem um pouco de todo o cansaço

Ela quis ter coragem de virar um tapa naquele rosto

Mas sabia que de nada ia adiantar

O sentimento de ingenuidade exagerada ali foi posto

E ninguém poderia fazê-lo passar

Mas eu nunca te proibi de nada!

Nós éramos livres, mas um só

O que nós tínhamos virou piada

Sonhos reduzidos a pó

O que você queria que eu não soube dar?

Quais eram os desejos que eu não pude ler?

Tudo é sempre mais bonito ao luar

O que você sentiu ao amanhecer?

O que aconteceu quando você despertou

E viu que aquele cabelo era liso?

Que aquelas mãos eram pequenas?

Que aquela cama não tinha o mesmo riso?

Eu não posso te explicar

Não sei por que tudo aconteceu

Eu sou fraco, disso tenho que cuidar

Mas amo você, pelo amor de Deus!

Ela era forte, moldada pelas trapaças da esperança

Podia agüentar qualquer tipo de calor

Mas não sabia que sua confiança

Era o que tinha de mais valor

Não queria que aqueles dedos

Acariciassem seus olhos inchados

Você inteiro pra mim é um monte de arremedos

De planos e dias quebrados

Eu fiquei com isso me sufocando muito tempo

Não queria jamais te machucar

Mas o meu maior medo e tormento

Era saber que você nunca mais ia voltar

Por isso eu demorei tanto

E mesmo assim não pude enterrar

E me mata saber que a razão do teu pranto

Foi a minha incapacidade de te honrar

Foram mais de 30 meses de confiança

De agradecimentos a Deus por pelo menos um afeto perfeito

Mas como fui burra e cheia de esperança

Por que eu achei que seria poupada de algum jeito?

Eu não quero viver com uma mancha na minha pele

Cada vez que você se aproximar

Com o cheiro de outra pessoa que repele

Toda a minha tentativa de perdoar

Quero que sejamos felizes

De você não guardo mágoa nem raiva

Tente seguir sem deslizes

Não engane outra pessoa por nada

A mulher tem realmente um sexto sentido

Se as coisas são suprimidas e engavetadas

Elas vêm em forma de sonho invertido

Pra virarem punhaladas quando reveladas

Nada mais precisa ser dito

Não deixo nenhum arrependimento

Eu acreditei que tudo era tão bonito

Mas parece que agora vem o rompimento

Ele se desespera e deixa o choro correr

O coração sacode a alma

Ela se entristece e se ajoelha para dizer

Você se acostuma, tenha calma

Se isso aconteceu, é porque não era pra ser

Estamos errados se continuarmos juntos

Eu me conheço: meu sentimento está a morrer

Mas conheceremos outras pessoas e mundos

Ele se arrasta até um canto

Breca as lágrimas com a mão

Enquanto ela arruma as malas cheia de desencanto

Ele conclui que fez de tudo um irreversível vão

Ela termina rapidamente

Sentindo a dor mais aguda cortar

Antes de sair olha em volta e diz docemente

Obrigada por finalmente me contar.

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