O Ato
Estes olhos que descortinam o mundo
Trazem à cena os mais distintos atos
Eu na platéia inerte.
Sorrio e aplaudo, em momentos,
Noutros comovo-me aos prantos
No meu discernimento parco.
O contraste da beleza que arquiteta a vida
Põe-se assim tão dissonante
Quando a fome e a miséria gritam em tom urgente:
Saciem o meu corpo, que a minha alma é perene,
E a dor só é sentida
Quando em nós se faz presente.
No embate dos meus dias em que busco a aclaração.
Vejo a falta do que me sobra
Sinto a dor que não é minha
Grito então em desatino ao meu ser abastado:
Por quê?
Num mundo tão desigual sou espectador privilegiado
Levanta-te! Vem a resposta altiva.
O muito que foi dado, não foi um presente em vão,
Suba agora no palco da vida e atue.
Faça feliz aos tristes e amenize a dor dos abandonados.
Pois se ao nascer foste agraciado, então rico serás!
Porém ao perecer estarás pobre se a ti não tiver doado.