Sentimentos Adormecidos

Uma noite,

dessas de dormir contigo

no peito e na mente,

porém do leito ausente,

desadormeci...

E vaguei desperto,

não em mim

mas por perto,

fora do centro,

mas ainda assim

por dentro

do que seria meu dormir.

E à meia-luz

em que se banhava imersa

minha meia-vida, dispersa,

meu meio-sono

em meio a sonhos, entretido,

reparei nos meus pensares

e nas coisas que o coração

ao sótão havia trazido;

e achei que tudo ali

havia adormecido.

Confuso, indeciso

por onde seguir,

por onde sair

e do que fazer,

me vi rodeado

por minhas dúvidas,

despidas de respostas,

que lá haviam se acumulado

por um tempo impreciso.

Com todo receio

de acordá-los,

encontrei o albergue

de meus medos

e me senti sendo mais um

a procurá-los,

e a temê-los.

Com a sutileza de um entardecer,

a cor ambiente se pôs a perder

ainda mais

e, entristecido por quase não ver,

comecei a tatear

úmidas paredes.

O piso era frio

e ficou mais e mais

quando começou a alagar.

Tonto, de tanto rodar

( parecia um poço aquele lugar ),

caí e comecei a chorar...

... eram lágrimas

o que as paredes estavam a suar.

Nesse mar,

comecei a nadar.

E ondas imensas

como longas tristezas

pareciam levar

revoltas,

remorsos

e recalques,

que pareciam voltar à tona

e disputá-la

junto a icebergs de indiferença.

Amargurado, mergulhei

ao mais profundo

de meu avesso

e, avesso

ao mundo,

lá fiquei.

Mãos desconhecidas me empurraram,

me socaram

e me jogaram de um lado para outro

e de um tempo para outro,

em meio a muito vermelho

muitos gritos

e muita dor.

Eu ardia em raiva,

era pura ira,

quando explodi...

E o clarão intenso

foi tão azul e tão bonito,

salpicando estrelas de mim

por todo o Universo,

que penso

ter dito

algo assim

no meu verso,

algo denso

e bem dito,

entre o sim

e o reverso,

no senso

perdido,

no fim

disperso,

em que me vi terminar.

E era tudo paz

após o fim,

tudo mais que branco

e além do além

que até rastros de anjos

eu pude contemplar.

E o tempo

e o espaço

fundiram-se em luz,

morna e sonora,

fora da escala

do meu pobre entendimento.

Senti-me no centro da galáxia,

no íntimo de um átomo

por dentro e por fora

da plenitude de ser.

O rastro do Criador,

pude então vislumbrar.