Aquilo tudo que eu vi...

Aquilo tudo que eu vi...

Sandra Ravanini

Aquilo tudo que vi, senhor de ninguém;

tantas vezes olhei para o céu e rezei

pedindo aos mil anjos a unção de um amém

sentada no telhado onde eu te esperei.

Inocente de fé, ah! senhor, como eu cria

na tua mão poderosa e milagreira;

no entanto a noite de sonho morria

a cada instante de infância sem eira.

Aquelas sombras que vi, senhor do amém;

pisavam nas fantasias, riam da fome

de luz e da fome dos que nada têm,

além de um telhado onde eu cria em teu nome.

Carente de respostas, só eu e mais nada,

o peito doído nessa despedida...

deixei-te em paz me crendo ser deixada,

porque aqui, pai, vi o senhor perder a briga.

Aquilo tudo que vi, senhor do além;

vozes e sombras sem asas à criança

pedindo clemência aos anjos de ninguém,

no mesmo telhado onde eu perdi a esperança.

03/12/2008