SAUDADES GERAIS
Lembro bem de minha infância
das férias em Minas Gerais
das modas de viola, rodeios
da fazenda, dos passeios
das águas minerais.
Em Minas se respira o ar puro
de suas matas verdejantes
entre vales e montanhas
que escondem caminhos, segredos,
do período colonial.
Minas do artesanato sagrado,
imagens transcendendo a história
das obras em pedra sabão.
De mãos que esculpiam mistério
do sacro à arte moderna
em ilusões valiosas.
Minas do arco-íris
presente em suas fontes
quando chega o anoitecer.
Seus coretos como palco,
nas praças arborizadas,
do amor no entardecer.
Minas com suas nascentes
de água límpida, saborosa
com seus rios, cachoeiras
grutas escondidas nas matas
obras primas naturais.
Os pássaros que cantam lá
são diferentes de tudo
seus gorjeios são mais limpos
claros com sustenidos
em trinados afinados.
Minas do céu estrelado
com a lua bem clara, brilhante
pirilampos lampejantes
grilos entoando cânticos
em sinfonia alternada.
Minas da tradição da fé
com romaria pra santos
arrebanhando o povão.
Muita quermesse na praça
baile na festa da igreja
com capelinha enfeitada.
Do folclore iluminado
Folia de Reis e Congado
das serestas mensageiras
de declarações do amor.
Da festa organizada
na casa grande e senzala
pra colheita do café.
Terra do gado, das frutas
dos doces fartos em compotas
do pão de queijo quentinho
da rapadura de cana
da cachaça amarelinha
que desce melhor que melaço.
Minas do leite fresco, do queijo,
fogão de lenha com brasa
da galinhada quentinha
com cheirinho bem de roça
daquele que entranha na pele
e não se esquece jamais.
Minas do povo guerreiro
que nunca tem medo de nada
que acorda no canto do galo
sorriso aberto nos lábios
já pensando em trabalhar.
Minas de gente renomada
de letrado a presidente
de escritores importantes
de poetas de tudo que é jeito
de músicos do clube da esquina
deleitando nossa gente.
Das Minas que é de Gerais
só sai trem bão pra danar
não só coisas saborosas
mas coisas que de importância
faz muita gente endoidar.
Minas que mora em meu sangue
mesmo eu sendo carioca
dos amigos mineiros chegados
da família por mim adotada.
Terra de paz, liberdade
de onde só sinto saudade.
Neli Neto
02.03.05
03:05hs-RJ
(readaptação de poema escrito em 1989
quando morava em Varginha-MG)