Asas
Ah... Se tudo, na vida fosse colorido
Guardaria para você, meu amigo,
Todos os meus dias de sol.
Emprestaria minhas noites enluaradas
Para que você, em sua luz prateada,
Passeasse com suas fantasias.
Se tudo na vida fosse encanto
Viveria, a minha, brincando
Tingiria meus sorrisos, de prata
Minhas tristezas, verde esmeralda
E meus fracassos de azul...
Apagaria meu passado em preto e branco
Amaria meu hoje, que é bom...mas nem tanto,
e o futuro que espero ainda.
Mas a vida, meu amigo, é como o vento
Faz-se forte, fraca, enfim, sem discernimento
Nos surpreende, nos enfraquece, e até mesmo esquece
De apresentar-se, sempre, como boa companhia.
Mas, em segredo, lhe conto
O que um dia a ela eu perguntei:
_Vida, quais asas tenho hoje para encontrar a liberdade perdida,
Serão as da memória que tenho dos anos de minha vida?
Quais asas perdi, pela vida, por estar afoita a fugir do ninho,
Serão as que remendei a cada erro ou serão as que deixei pelo caminho?
Ela, austera, aponta-me o horizonte
E eu, qual pássaro sem asas, pouso
Com o frio a estalar em meu corpo
Em muitos galhos me escondo...
Então, quando bem tarde, já noite vazia
Aprisionei-me entre as folhas frias,
E a vida mostrou-me, escondidas, e eu nem lembrava,
As minhas, pouco usadas, asas de andorinha!