O BEIJO ÍNTIMO

íntimos,

beijamo-nos

como os que desejam sentir

o cheiro da alma

e pasmam

ao perceber que alma não é tudo

e, por tudo, o corpo fala

como se quisesse calar o desejo mais abstrato.

no beijo,

há toda a intimidade do desvestir das bocas

até quando, sem roupa, os lábios

percebem que as frases

[de efeito]

têm todo o sentido ido do silêncio,

para o envolvimento trançado das línguas

em bom e claro português.

no pós-beijo.

há uma perversão de ânsia pelo corpo outro

com a respiração, também, sem controle

como se fossemos os amantes primeiros

[mais parceiros]

desta união que não fala por inteiro

da resistência física dos corpos

na arte do prazer de dar e ter.