TROVAS DA MINHA VIDA

A minha vida em trovas (Primeira parte)

cadê aquele doce menino
que tantos castelos fazia?
buscando por seu destino
vibrando de tanta energia

logo que o dia raiava
levantava-se da cama
projetos que alimentava
até no fim de semana

em tudo que se propunha
enfrentava com altruísmo
pegava o touro na unha
nunca faltou dinamismo

nasci e morei na capital
lá no bairro do Ipiranga
onde a coroa de Portugal
botou o Brasil numa canga

forte o porvir paulistano
de quem nesse bairro mora
é grande o fervor humano
do jugo que foi outrora

nesse recanto heróico
do grito da independência
do cisplatina histórico
Luiz Bóvo e sua sapiência

abrindo alas prá Anchieta
e para o lazer lá na praia
quanta gente se deleita
e faz que a tristeza saia

o tempo soergue lembranças
retratos que ninguém apaga
entre o choro de criança
na cruz azul iniciei a jornada

foi duro o suspiro primeiro
muito difícil de acontecer
me deram um beijo faceiro
assim me animei a viver

o Cambuci foi a guarida
do despertar quase mudo
dos meus vagidos de vida
do meu começo de tudo

o bairro tem um hospital
do exército brasileiro
alegando motivo banal
dei uma de aventureiro

quis me bandear do quartel
sair da dura rotina militar
aleguei que fez mal um pastel
precisava urgente me internar

perceberam a minha ousadia
fato comum de todo recruta
bote Nogueira na enfermaria
vamos logo acabar essa truta

com neuróticos de guerra
passei todo dia amofinado
quem dá uma de esperto erra
dei no pé, eu fugi apavorado

São Jorge é o meu timoneiro
meu nome nele foi inspirado
meu santo lindo e guerreiro
o meu protetor dedicado

todo vinte e três de abril
com mamãe eu ia a igreja
o padre caminhando gentil
com sua sacola e bandeja

mamãe professora primária
cedo corria pra ganhar o pão
a prima helena me criaria
até melhorar a situação

pro interior nos baldeamos
Boituva,Itu e em laranjal
com vó esperança por anos
porto feliz foi o meu local

eu fui nadar com Toito
no Tietê perto da gruta
dei um mergulho bonito
queria ganhar a disputa

pensei que no raso eu caia
mais fui parar lá no fundo
nadar muito pouco sabia
quase mudei pra outro mundo

lembro do Romeu e do moinho
das brincadeiras na palhinha
aonde do alto pulava sozinho
na palha do arroz que lá tinha

pelas roças entregava o pão
lá pelas tantas da madrugada
o primo Rubens no caminhão
só alegria em nossa chegada

Tio Felício na sala roncava
cansado de tanto trabalhar
mas o Olívio baralho jogava
com seu terno branco a brilhar

as primeiras letras aprendi
minha professora Iris chamava
era brava que nem sucuri
com ela ninguém bagunçava

vovó me acordava bem cedo
corria pra escola da praça
eu conto assim meu enredo
saudade feliz que me enlaça

de onde partiram as bandeiras
juntinho do famoso rio Tietê,
brincava nas tardes fagueiras
tinha coisas bonitas pra vê.

lá por Boituva eu andava
caminhando de pés no chão
poeira que só levantava
vermelha que nem tição

estou guindando da memória
emoções que dela eu senti
Boituva descortina sua glória
pára-quedistas e o seu abacaxi

sempre ia para a fazenda
ver fabricar a cachaça
caindo através da moenda
na cana que se amassa

na terra e berço republicano
Itú fez as suas convenções
fiquei lá por mais de um ano
como escoteiro em expedições

da casa Tobias tenho lembranças
que o carro de som anunciava
casa Tobias, paraíso das crianças
e o inferno dos pais decretava

no seminário do Carmo
eu fui também escoteiro
foi lá que jurei o termo
sempre alerta companheiro

Itú tem mania de grande
cidade também da canção
e lá que tudo se expande
é o berço da convenção

estudei em seu SENAI
o curso de entalhação
fiquei nesse vai e vai
não era minha vocação

papai e mamãe resolveram
mudar então para laranjal
a todos nos convenceram
que a nova casa era genial

era uma chácara na cidade
cheia de frutas bem saborosas
goiabas, jaboticabas de qualidade
mangas, laranjas muito viçosas

lembro do tachão de goiabada
muito gostosa, do tipo cascão
as colerinhas em sua revoada
e os canarinhos na louvação

Jaboticaba, um cruzeiro o litro
lá ia eu com o irmão Fernando
com carinho de mão e no grito
vendendo, ganhando e sonhando

Fernando na boca do tigre
eu passeava no úrtimo gole
pensando assim se regride
saudades que o tempo consome

desde a nascente do Tietê
muitas cidades ele percorre
histórias que vou descrever
daquelas que nunca morre

na minha infância nadei
em São Paulo no rio Tietê
em límpidas águas entrei
como era lindo a gente vê

foi um raro privilégio
que hoje não existe mais
seria agora um sacrilégio
e nunca perdoado jamais

como tantos em maioria
decidimos a São Paulo voltar
é nesse torrão que eu queria
ver o meu sonho se realizar

era o quarto centenário
São Paulo só luz pipocava
e foi neste lindo cenário
que o Mario Zan tocava

vai fundo o meu pensamento
lembrando a chuva de prata
garimpo no meu sentimento
saudades que foi essa data

São Paulo era só paz e sossego
bondes rasgando prá todo lado
todos saíam sem qualquer medo
como foi bom viver esse passado

dava-me ao luxo de chá tomar
na vienense ao som de violinos
com o amigo Candango caminhar
ao leo, pelo centro sem destinos

como eu poderia imaginar
na minha doce simplicidade
que um dia iria me consagrar
o mais votado dessa cidade

São Paulo balança o país
nesse esplendor de sucesso
não sei quem adubou a raiz
do seu gigantesco progresso

berço de todas nações
num agitar permanente
meca de todas as ilusões
desafio de tanta gente

Ipiranga, Vila Mariana morei
no Cambuci, foi lá que nasci
Santa Cecília Perdizes fiquei
no Pacaembu estou com Nodeci

vivi momentos difíceis
instantes de incerteza
deixaram até cicatrizes
que lembro com tristeza

nunca fui muito chegado
em uma cadeira escolar
vivia em outra ligado
prontinho pra disparar

mesmo assim fui destaque
ao ter feliz privilégio
presidente da Olavo Bilac
o grêmio do meu colégio

ano de cinqüenta e sete
minha pátria eu fui servir
não tem o que me aquiete
que mexa com meu porvir

estudei para ter minha vez
de soldado a cabo cheguei
convidado que fui pra Suez
o meu Brasil não deixei

ainda sentando praça
quartel da Segunda DI
lembro com muita graça
da marmita que esqueci

prendam o soldado nogueira
recolham ele ao xadrez
tem que pagar a besteira
conscientizar do que fez

fui titular da pelota
batia mesmo um bolão
corria sem medo de bota
treinei até no coringão

em todo final de semana
em clubes de várzea emplacava
no bairro de Vila Mariana
no Náutico que eu mais jogava

fui um bom ponta direita
meus chutes eram bem fortes
corria, saltava, saúde perfeita
praticava quase todos esportes

fui treinar no palmeiras
estava nas minhas metas
naquele tempo as peneiras
revelavam os bons atletas

no parque São Jorge joguei
a camisa do Corinthians vesti
até um golaço marquei
foi muita emoção que senti

lá no timão do vergueiro
por muito tempo fiquei
driblava qualquer zagueiro
quantas redes já balancei

em cima do santa helena
de boy comecei trabalhar
na praça da sé era a cena
é tão bom a gente lembrar

no hotel governador
junto da mesma praça
acabei como morador
e me hospedava de graça

no restaurante papai ia
é lá que feliz almoçava
tudo isso me descontraía
tudo isso me realizava

em muitas empresas batalhei
Starlon, Ipiranga e Colgate
não era a minha praia eu sei
foi como se fosse um biscate

pinga da boa também vendi
engarrafada no alambique
eu nunca que me arrependi
se fui brega ou fui chique

numa fatídica manhã
o sol nasceu ofuscado
minha mãe estava mal sã
deus tinha lhe chamado

foi um golpe doloroso
difícil de se conformar
um momento pavoroso
não gosto nem de lembrar

aquele jeitinho puro
que meu olhar venerava
deixou-nos em um sussurro
quanta dor nos sufocava

foi um patrimônio lindo
que nos legou nesta vida
partiu até nos sorrindo
por sua missão cumprida

é linda a razão, as verdades
vou falar do meu querido pai
suas mais nobres qualidades
conselhos que nunca se esvai

frente a mim na sala sentado
tratava-me com todo respeito
sempre admirado e muito amado
arriscava, botar-lhe defeito?

seus dedos eram um pincel
a caneta era o seu destino
descritos, gravados em papel
letras suaves, sons de violino

depois dessas desavenças
fui morar na praça da sé
firmei muito minhas crenças
pois nunca eu perdi minha fé

com Candango do Ypê querido
no prédio Martinelli residi
sempre foi meu grande amigo
melhor ou igual eu nunca vi

nesse mundão vertical
um pouco de tudo eu vi
relatos da vida real
histórias e lendas ouvi

foi o edifício mais famoso
orgulho de nossa cidade
onde eu dormia gostoso
com sonhos da mocidade

tudo mais perto ficava
no Arouche o escritório
na rádio que logo chegava
sem preocupar com horário

na decantada av. São João
São Paulo selou histórias
e Caetano em terna canção
perpetuou saudosas memórias

um fato a saudade emana
arquivado na boa lembrança
foi a reunião no bar Brahma
depois de alegre festança

a festa do chapéu de couro
com amigos fui comemorar
foi realmente um estouro
valeu a pena a gente lembrar

meus passos cruzaram esquinas
na sanha de viver novas pistas
no vai e vem das minhas sinas
no trabalho, lazer e conquistas

essa legião de almas que aquece
que enche a metrópole com calor
no seu cotidiano que amanhece
envolvida em seu ninho de amor

eu sempre amei o centrão
numa época cheia de paz
mudei prá avenida São João
e vi aumentar o meu cartaz

foi meu ninho abrasador
que aconchegou Nodeci
o nosso cantinho de amor
de grandes paixões que senti

tive conquistas sentidas
todos assim se comportam
mas a que une nossas vidas
são as que mais confortam

no jardim da existência
ela é a mais linda flor
razão da minha vivência
a soma da paz e do amor

ela não é tão exclusiva
todas querem lasquinha
mais a parte mais decisiva
não abdico ela é só minha

todos curtem a sua mulher
é um sentimento gostoso
eu digo, venha de onde vier
da minha eu sou orgulhoso

no largo Arouche a conheci
linda, bronzeada e faceira
lá vem a baianinha Nodeci
junto de mim prá vida inteira

com raça e muita coragem
na TV cultura fui trabalhar
propagando minha imagem
para um dia me consagrar

Zé Cupido e Tony Martins
formavam meu regional
o triângulo tilin tilins
e a sanfona zoando legal

balé marcianas coreografava
as danças típicas do sertão
por isso que o povo gostava
nunca desligava a televisão

era o meu chapéu de couro
vertendo no meu coração
meu lindo querido tesouro
minha ternura em louvação

nas telas fui desbravando
com meus programas quentes
Gazeta e Record fui brilhando
TV Excelsior e a Bandeirantes

o nordeste foi para televisão
com forró, e a ginga do xaxado
acabou o preconceito meu irmão
meu ideal eu já tinha alcançado

bons frutos rende a experiência
somei pontos e fui contratado
minha fama, moral e decência
atributos por mim conquistado

diretor da CBS fui empossado
para equipe de artistas criar
dei conta de mais esse recado
muitos contratei para gravar

neste meu roteiro artístico
até Nelson Gonçalves gravei
Portinho de batuta em risco
eu dirigindo a voz de um rei

noites inteiras a produzir
com os músicos do municipal
sentia na pele o sangue fluir
e tudo elevando o meu astral

vale registrar a discografia,
Lps,compactos, muitas gravações
tantas musicas que eu fazia
um punhado de letras e canções

meu sonho sempre foi ser cantor
acreditava na minha inspiração
a gravadora colocou-se a meu dispor
daí surgiu a primeira gravação

Canta Galo, Beverly, Inspiração
RCA-Victor, Copacabana e a RGE
histórias, fatos que fiz canção
melodias ditosas de sol a ré

são oito long-plays gravados
repletos de ritmos eloqüentes
que foram bem divulgados
em estados bem diferentes

dentre as várias composições
destaco Rincões de nossa terra
tem mais de dez regravações
são lindos os versos que encerra

uma coletânea de crônicas
gravadas com muito amor
de grande paixões vividas
narradas com meu fervor

ganhei muito com publicidade
quantas campanhas assinava
criava mensagens de qualidade
que o consumidor comprava

criativo no que formalizei
do caricato a teses difusas
com vozes famosas realizei
jingles sem nenhuma recusa

histórias bonitas criei
no consagrado estúdio sol
com Salomão Esper gravei
propagandas e textos em rol

colaborei em muitos jornais
no pasquin de nome Governador
Notícias Populares e outros mais
minha caneta escreveu com amor

na Folha do Povo e na Melodias
no São Paulo da cúria escrevia
cultura e arte dos nossos dias
falavam alto e tudo eu sabia

teve época que tudo vendia
de publicidade e até remédio
importava é o quanto rendia
e acabar com o bolso tédio

virei São Paulo dos pés a cabeça
cantando nos circos e forrós
não existe bairro que esqueça
quantos já ouviram minha voz

eu tinha que perseguir
de vez a minha vocação
não adiantava insistir
andando na contra-mão

sempre fui muito versátil
homem de sete instrumentos
nunca que seria um inútil
valorizava meus momentos

Gil Gomes sempre elogiava
em todos os seus programas,
personagens que eu imitava
entremeado aos seus dramaS

nas veias o sangue dizia
você é um artista nato
sentia que logo eu seria
ser consagrado de fato

foi na avenida São João
que pequena sala aluguei
meu ponto de inspiração
local onde eu comecei

com sertanejos artistas
abriu-se a primeira porteira
sinalizaram as conquistas
pro Jorge Paulo Nogueira

com o microfone aberto
na rádio progresso falei
com Boris Casoy de perto
Gilberto Pereira encontrei

foi meu amigo J. Garcia
que em Santo André me levou
na Rádio ABC quem diria
Chapéu de Palha começou

por toda São Paulo andei
em grandes peregrinações
nas lojas eu pesquisei
os sucessos dos campeões

o troféu chapéu de palha
ganhava-o de boa campanha
não podia ter qualquer falha
em cada final de semana

relaciono alguns sertanejos
que fizeram jus a essa Laura
realizaram os seus desejos
engrandeceram cada aura

Tião Carreiro e Pardinho
Moreno e o irmão Moreninho
Tonico, Tinoco arrasaram
Zico, Zeca, Nascim festejaram

Fortuna, Pitangueira, Zé do fole
Teixeirinha, Zé Betio e José Rosa
foi bom reunir toda essa prole
colegas queridos, gente famosa

Teddy Vieira foi meu amigão
Raul Torres e o capitão Furtado
Lorival dos Santos mais que irmão
E Humberto Teixeira consagrado

da rádio abc fui gerente
dinamizei aquela estação
ouvida por tanta gente
muito boa a programação

foi nessa oportunidade
que o Gonzagão encontrei
assim nasceu a amizade
que tive com o meu Rei

sentia que despertava
sucesso por todo lado
que força me alimentava
eu era um predestinado

Geraldo Meirelles ladino
sentiu seu faro aguçar
chamou-me novo inquilino
na nove de julho estrear

oportunidade de ouro
que logo cedo aflorou
nasceu o chapéu de couro
que tanto me consagrou

não levou tempo e fiquei
conhecido e muito popular
a vida toda eu me dediquei
a quem soube me prestigiar

os valores nordestinos
migraram prá um novo abrigo
fugindo dos desatinos
buscando seu berço amigo

com o mais sincero amor
fiz da saudade a bandeira
sou o eterno admirador
dessa gente hospitaleira

São Paulo virou nordeste
com a minha voz vibrante
dei luz aos cabra da peste
com meu ardor bandeirante

cheguei ao seio do povo
querido que nem mecenas
ainda estava bem novo
já balançava as antenas

vou falar do chapéu de couro
um troféu que me projetou
que fez minha vida um tesouro
que tudo em mim transformou

eu não me esqueço jamais
dos aplausos em profusão
história que ficou nos anais
marcadas de muita emoção

usando extrema ousadia
parti para o grande celeiro
certeza de que eu traria
os bambas do rio de janeiro

Trio Nordestino e Gonzagão
Abdias, Ludogero e Marinês
Zé Gonzaga com seu sanfonão
vige, eu quase endoidei de vez

Ary Lobo com o Borrachinha
Zé Praxedes com sua algibeira
foi tanta gente que tinha
sentadas, em pé e na beira

ronca o fole, Pedro sertanejo
mostre porque você aqui veio
nessa festa saciei meu desejo
quantos artistas e eu no meio

o meu pioneiro programa
em muitas rádios cresceu
na nove de julho deu fama
em muitas outras,aconteceu

na rádio nove de julho
foi o meu embalo inicial
onde com muito orgulho
plantei meu marco triunfal

começamos na Venceslau Braz
em frente a caixa econômica
a praça da sé ficava por traz
é uma baita saudade crônica

depois foi pra vila mariana
na rua doutor Pinto Ferraz
assim de semana em semana
eu vi crescer meu cartaz

falava com muito sentimento
botava o coração pra desabafar
programas de entretenimento
gostosos de se recordar

nossa música sertaneja
tem força que nem raiz
é a que mais o povo deseja
sacode o nosso grande país

quando jovem eu empolgava
era um lidimo defensor
da cultura e costumes falava
do povo do nosso interior

compus obras em profusão
dizendo das coisas nossas
descrevi as belezas do sertão
e a simplicidade das roças

na rádio Record trabalhei
com duplas de expressão
muitos artistas apresentei
meu ibope era um campeão

somente num dia chegaram
mais de oitocentas cartas
ouvintes que alimentavam
audiência das mais fartas

criei vários personagens
ilustrando os meus programas
falavam tantas bobagens
mais eram muito bacanas

chapeuzinho foi quem abafou
pescador, mineiro e madame forró
retratos alegres que ilustrou
mesmo fazendo o programa só

no hora do angelus rezava
a crônica da Ave Maria
em casa mamãe escutava
um copo de água eu benzia

lembro dos bons companheiros
Plácido e Clovis Pontes amigo
foram leais, fiéis, verdadeiros
daqueles que não negam abrigo

Dr. Plácido foi humano e notável
livrou-nos de difíceis caminhos
e com seu forte jeito amigável
foi um multiplicador de carinhos

na Rádio Record continuei
defendendo o povo sertanejo
por isso é que me projetei
aproveitando a esse ensejo

o Zé Betio fui eu quem levei
na rádio Record trabalhar
com estudos argumentei
tinha tudo prá se destacar

o sucesso do Zé foi tanto
que até perdi meu programa
a grana quebrou o encanto
fiquei só comendo grama

as igrejas compravam espaços
em quase todas as rádios
foi um verdadeiro regaço
inflacionaram todos horários

hoje tem poucos radialistas
só tem os pastores pregando
botaram pra fora os artistas
em templos vão transformando

tenho saudades de outrora
quando o rádio era altaneiro
não é como ele ficou agora
que saudades do hélio ribeiro

por ele eu fui aprovado
prá estrear na rádio capital
foi esse o melhor atestado
que sempre elevou meu astral

levei esse gênio ao planalto
junto com o senhor João Saad
e ele falante, muito esbelto
mostrou de vez sua capacidade

não sou contra as religiões
não aprovo os seus excessos
não se ouve mais as canções
e nem as paradas de sucessos

tínhamos programas atraentes
novelas, humorismo e cultura
agora a gente só ouve os crentes
e as músicas? foram pra sepultura

se valessem os conselhos que pregam
a safadeza não podia mais existir
violência, assaltantes que nos pegam
tudo isso mexe em nosso porvir

Record, Globo e Boa nova
Nacional, Cometa e Tupy
em todas eu dei uma sova
sempre junto com Nodeci

era ainda uma criança
em Laranjal Paulista
aonde tinha festança
e a eleição tava a vista

momento que me empolgava
candidatos palanqueando
Emilio Carlos discursava
e eu, num caixote imitando

comigo mesmo eu dizia
ainda algum dia vou ter
a mesma lábia e picardia
e deputado vou me eleger

gravei bem na minha mente
essa grande determinação
fui cultivando a semente
adubando a minha vocação

após longos anos passados
defrontei minha trajetória
os meus dividendos pesados
davam pra mudar a história

na televisão bandeirantes
Luiz Gonzaga assim cantou
setembro passou
outubro e novembro
no dia quinze
vai ter eleição

o meu candidato
aqui em São Paulo
é Jorge Paulo
do meu coração
com aplausos mais vibrantes
a deputado gonzagão me lançou

nenhuma experiência de fato
sem dinheiro, só boa vontade
sai para luta que nem um gato
valendo-me do fulgor da idade

perdi na primeira empreitada
aprendi mais um passo a frente
que venha uma outra jornada
agora tudo será bem diferente

meu escritório do Arouche
em uma acanhada salinha
muitos amigos eu trouxe
na nova campanha minha

mil novecentos e setenta e dois
vou partir para ser vereador
Nodeci falou: é agora, não depois
a glória espera o bom lutador

dessa vitoria sentia o cheiro
as urnas estufaram de votos
ganhei de lavada em primeiro
felicidade prós meus devotos

nada eu deixei que fazia
fiz meu mandato um escudo
trabalhei com toda energia
mostrei que eu era peitudo

novecentos e setenta e quatro
chegou a vez de ser federal
fiz do meu povo o meu arbitro
nova vitória tão monumental

fui a Brasília com meu arsenal
preparado para na tribuna falar
corresponder com o povo afinal
orgulhoso de lhes representar

falei com garra e coragem
tanta injustiça denunciei
a corrupção e a malandragem
discursos, projetos criei

de todas as parte do Brasil
muitas cartas que chegavam
eles gostavam do meu perfil
e meus trabalhos aprovavam

Ulisses o grande guerreiro
estrela mor dos parlamentos
o mar roubou o timoneiro
prá defender seus tormentos

subi na escala do congresso
graças a dedicação consciente
Tancredo Neves viu o sucesso
da comunicação me fez presidente

parlamentares e grandes amigos
deputados de notável expressão
Freitas Nobre dos mais antigos
Lomanto Junior feliz baianão

Chico Pinto, Alencar Furtado
os autênticos do manda brasa
a revolução tinha lhes cassado
cortaram-lhes a voz e a asa

fiz da existência um enredo
relembrando a histórias de fato
amigão do general Figueiredo
não aceito fofoca ou boato

o nosso saudoso presidente
de pulso firme e coragem
foi sempre muito decente
combatendo a gula e a voragem

era vereador de nossa cidade
de São Paulo ele foi cidadão
com meus pares na edilidade
homenageei o presidente João

fui em vista ao palácio
como lidimo representante
o meu porvir falou alto
lá que me fiz bandeirante

quando terminou a audiência
a reportagem em cima avançou
diga por favor excelência
que assuntos da pauta tratou

o presidente me autorizou
que transmitisse a nação
que as diretas ele aprovou
foi essa sua determinação

nas minhas três legislaturas
eu fiz um arsenal de projetos
sempre pensando nas criaturas
nos sofredores, nos sem tetos

para as domésticas em geral
o décimo terceiro salário sugeri
o cinto de segurança meu aval
proposições múltiplas construí

lutei pela cultura alienada
que macula o patriotismo
por nossa língua abandonada
enalteci o nosso civismo

a enxurrada de musica estrangeira
denunciei com vigor na tribuna
era eles enfiando qualquer besteira
não titubeei, criei projetos que puna

aliando-me a Henrique Cardoso
quisemos tentar dividir a Bahia
foi um projeto bem caudaloso
o estado de Santa Cruz nasceria


 http://www.recantodasletras.com.br/escrivaninha/publicacoes/editor.php?acao=ler&idt=1362328&rasc=0


RELAÇÃO DOS PROJETOS DE LEI QUE APRESENTEI.


o sul quem riqueza gerava
ficando sem contra-partida
o cacau que pagava a despesa
há mais de cem anos de vida

falaram tanto dos militares
dos tempos da revolução
os meus colegas parlamentares
deram exemplos de probação

no tempo que fui deputado
não tinha o tal mensalão
o congresso era comportado
com muito respeito a nação

tinham apenas dois partidos
do governo e da oposição
com projetos bem definidos
que eu consegui a reeleição

o meu primeiro pronunciamento
foi para exaltar o nordestino
foi o meu total reconhecimento
de quem traçou meu destino

lá na câmara em seus anais
ficaram meus louros e glórias
projetos, discursos imortais
que a vida colocou na história

deixo a minha alma limpa
nesta derradeira caminhada
para que você pense e sinta
que nobre foi essa jornada

sinto no passar dos anos
que ainda tive horas perdidas
é quando a pensar desenganos
idéias inúteis são consumidas

na raia de nossa política
louvo-me de quem vou falar
acima de qualquer crítica
seu nome eu vou proclamar

querida Nodeci Nogueira
todas horas o braço forte
ela foi sempre a primeira
no voto que me deu suporte

sucesso é para quem tem glória
tem fibra e muita expressão
pois os seus votos na história
e na urna do meu coração

vereadora e deputada estadual
dignificou o nosso parlamento
trabalhou com afinco e afinal
tem o nosso reconhecimento

nosso local de atendimento
na rua do Arouche começou
aos poucos arregimentando
uma grande legião se formou

foi um entrelaço danado
um boca a boca bem forte
já estava muito falado
desde o sul até o norte

os anos setenta marcaram
a trajetória tão brilhante
dos corações que se uniram
num sentimento empolgante

multiplicando-se em abraços
tanta gente do nosso povão
vi aumentar os nossos laços
numa rotina de peregrinação

Paissandu foi o novo endereço
no Arouche era gente demais
atendíamos com muito apreço
porque nos todos somos iguais

cantei por São Paulo inteira
em circos e forrós da cidade
nordeste é minha bandeira
a quem sempre jurei lealdade

em São Paulo o primeiro forró
foi no Zé Pedro da vila Sônia
ninguém saia de lá sem xodó
sem Laura, Joana ou Antônia

chapéu de couro na televisão
uma jornada de recordações
traz o nordeste e seu baião
e a pureza dos nossos sertões

falei com força e vigor
da integração entre nós
sem preconceito nem cor
o coração foi a minha voz

fiz uma sincera parceria
que me deu tanta glória
missão que mais queria
e me projetei na história

fiz do amor minha pauta
com notas em devoção
tinindo qual uma flauta
tocando no meu coração

minhas crônicas lançadas
na famosa editora prelúdio
lidas e também comentadas
gravadas até num Studio

a Globo e Record deram vidas
as entranhas da minha alma
narrei paixões mais sentidas
que seduzem e nos dão calma

nos píncaros de nossa fama
as oportunidades são mil
chamaram-me para uma trama
viajando por todo o Brasil

foi o longa chapéu de couro
filmado no sertão de Serrita
com muita derruba de touro
e aplauso de moça bonita

memorável imagem e roteiros
rodado em plena caatinga
vaqueiros e mais tropeiros
e Gonzagão com a sua ginga

com consagrados atores
brilhei em todas as cenas
ao lado de Jofre Soares
e outras lindas morenas

numa saída bem prematura
mudei minha vida de vez
final daquela legislatura
em março de oitenta e três

por oito anos ecoou minha voz
em Brasília cheia de emoção
o voto vinculado e fato atroz
nos derrotaram nessa eleição

foi um final surpreendente
das voltas que o mundo dá
não ficamos nem pra suplente
o jeito foi a gente se manda

de braços abertos tivemos
com nossas mãos estendidas
trabalho leal que fizemos
pra tantas almas sofridas

ninguém vem nos abraçar
nem estender as suas mãos
é penoso para nós reclamar
ingratos e cruéis cidadãos

quebrou-se o encanto dos anos
quebram-se os elos da corrente
calaram-se os desenganos
a saudosa saudade de gente

mesmo em São Paulo morando
o coração respira nordeste
pra Ilhéus fomos chegando
sempre é bom fazer novo teste

aportamos na nação grapiúna
recebidos na maior gentileza
nós temos um tesouro em Una
somos sócios da mãe natureza

é melhor ir sempre em frente
do que ficar olhando prá trás
com chuva ou tempo quente
a gente sabe mostrar o que faz

se dividir minha idade
em três partes iguais
a Bahia na realidade
hoje é quem leva mais

dos meus sessenta anos
vinte e nove quem diria
mesmo furando os meus planos
tenho vivido na linda Bahia

aportamos em Olivença
nas milagrosas águas de vick
lugar de paz e bonança
aonde mora muito cacique

tem festas tradicionais
como a puxada do pau
criada por seus ancestrais
pra repelir todo o mal

os banhos na Tororomba
são por demais afamados
o seu balneário é uma pompa
e um dos mais procurados

curtida pelos surfistas
a praia do Back Door
Jojô e Rudá, top de listas
conhecem o mar de cor

eu curto Olivença, ela me amarra
de praias lindas como a batuba
florestas nobres de piaçava
e bem pertinho, Comandatuba.

a cara e a coragem na roça
sentindo o sabor chocolate
não há pessimismo que faça
ruir a força do nosso embate

história parece de carochinha
mas é triste saber da verdade
a velha bruxa com vassourinha
pois praga no cacau com maldade

a região cacaueira a empobrecer
o desemprego assola as famílias
o fazendeiro viu sua roça fenecer
desolado a esperar melhores dias

a esperança em nós resistia
foram quinze anos de lutas
e a vassoura que não sumia
a devastar nossas frutas

terrível esse jogo de risco
quem foge a luta não vence
a natureza fez seu confisco
um troco vai dar que compense

foi nessa Bahia decantada
que traçamos um rumo novo
feliz ficou nossa filharada
ao se integrar com esse povo

o balançar do coqueiro
fascinava-me a chamar
chegue aqui companheiro
muito tenho pra ofertar

com ele um exército formei
legião de fortes soldados
no campo de batalha semeei
no coração estão plantados

lá esta meu lindo coqueiral
viçoso verdinho de esperança
meu prazer de olhar matinal
a brincar qual uma criança

me bando a suspirar entre eles
enchendo os pulmões de alegria
amarelos, vermelhos,tem verdes
o meu pão nosso de cada dia

dizem, quem mora numa ilha
tem sua vida sempre eterna
por isso escolhi essa trilha
tenho muitos anos de perna

descortino a janela cedinho
na sinfonia de uma serenata
meu amigo que é o passarinho
trina canção que me arrebata

é uma poluição tão gostosa
de sons, bicos e asas a bater
e a passarada toda em prosa
reunidos para o que vão fazer

lá na ilha de Comandatuba
é uma delicia a gente viver
é coco que o vento derruba
coqueiros que nos dão prazer

um lar nunca se completa
e vive um amargo fastio
os filhos são a grande meta
que acabam de vez com o vazio

os nossos chegaram saudáveis
unindo-se entre nós em abraços
são quatro e são muito amáveis
vieram frutificar nossos laços

Glaucia é o nosso curumim
o Jorge Paulo é um gato
a Selma é o nosso jardim
Maíra, inteligente de fato

Já estão todos formados
com luta, suor, sacrifícios
todas eles são admirados
por colegas e seus amigos

imito agora o Roberto
e seus milhões de amigos
tantos nem sei ao certo
dos novos aos mais antigos

Alex,Josino e Misael
Aluisio, Assad e Jadão
Laerte, Luiz, Manoel
Guilherme, Sala e João

quando cheguei em Brasília
a procura do meu espaço
Heitor Humberto e família
formamos um grande traço

o Jadão me levou pros states
nas terras do tio Sam
Nova York com seus enfeites
lembrei-me do Peter Pan

cada qual tem o seu jeito
mas o dele é muito especial
é o Alfredo amigo do peito
o meu confidente leal

candango meu braço forte
no despertar das auroras
alma bondosa do norte
amigo de todas as horas

para falar a verdade
existe até um pelotão
todos de várias idades
e moram no meu coração

uma amizade distante
presente agora se faz
Misael juntinho da gente
só alegria nos traz

pouco eu cobro de alguém
todos tem o seu valor
quem vive só para o bem
não guarda nenhum rancor

meu nome sempre lembrado
por tudo que fiz merecer
nas urnas fui consagrado
no cinema, no rádio e TV

alma nobre meu irmão José Luiz
pouco pude seguir seus conselhos
quero me emancipar sou aprendiz
assim é que me vejo nos espelhos

boas ações enveredou no seu caminho
o sentimento de amor que fala alto
esta cercado embevecido de carinho
colheu doces frutos no seu palco

o tempo não lhe derruba
na Antoninha tudo florescem
não conto sequer uma ruga
os anos não lhe envelhecem

uma soma diária de afetos
retrato de paixões vividas
dos filhos, Basílio e netos
diárias emoções bem sentidas

com seu sem pulão de canhota
brilhava e reinava no campo
o bicho corria, comia a pelota
foi um craque do seu tempo

episódios do mano Fernando
agora que narrando eu estou
qualidades que tem de bando
histórias que ninguém contou

é um homem de moral elevada
extremoso pai grande amigo
orgulhamos de sua jornada
de Célia e Fernanda? Nem digo

não podia faltar nesse sumário
um coração imenso de ternuras
santinha viveu o seu calvário
esta com Jesus lá nas alturas

dedos mágicos na máquina a rolar
seu pensamento criando inovações
a grande artista solerte para criar
maravilhosas foram suas confecções

muito lutou prá educar sua família
foram quatro enes na nomenclatura
Nodeci, Nara,Nieda e Noélio alegria
todos criados e cercados de ternura

me gabo de homem sensato
reconhece o bem que é feito
por isso eu louvo o Liberato
sempre soube o que é direito

na Bahia nossa casa edificou
junto da praia aconchegante
dinâmico ele sempre demonstrou
seu grande valor cativante

sua obra uniu nossa família
em temporadas inesquecíveis
ainda reina muito a alegria
momentos dos mais agradáveis

construímos castelos e sonhos
nas estações de nossa existência
e em cada parada compomos
a pauta de nossa experiência

e nessa trajetória do tempo
centramos a quem nos são caros
vai fundo o nosso pensamento
buscando os exemplos raros

daquele que aos filhos damos
bem do fundo do coração
é assim que nos preocupamos
com o destino que levarão

queremos os filhos felizes
que acertem na parceria
que evitem todos deslizes
que vivam em harmonia

Glaucia uniu-se a Daniel
nosso convívio enriqueceu
mas duas abelhinhas no mel
na linda colméia do céu

integramos a família zanchita
na mais fraterna união
que e o amor e a paz infinita
selem nossa confraternização

de tantos amigos quero falar
vou enumerar nessas prosas
quero todos homenagear
no doce sabor dessas trovas

um dos principais seguidores
que a amazoniaprá nos mandou
Raimundo Nonato faço louvores
amizade que nunca gorou

Soldado de tantas campanhas
nos momentos mais delicados
derrubava todas as sanhas
de todos os maus intencionados

não há mais terna ternura
que afagar um cachorrinho
espanta qualquer amargura
quando abana o seu rabinho

é de infinita pureza
o amor desses bichinhos
uma expressão de grandeza
comovem os seus carinhos

melhor que o ser humano
que vivem tão desiguais
por isso que eu me ufano
Dolly,kika e Maggie, são demais

elas nos trazem a paz
fazem bem ao coração
alegres com tanto gás
fiéis que nem um irmão

tenha você também
o seu companheirinho
vai lhe fazer muito bem
o cheiro do seu focinho

eles espantam as mágoas
matam qualquer tristeza
quanto que nos encantam
com sua altivez e beleza

vamos cuidar com amor
desses meigos bichinhos
que trazem tanto calor
no som de seus latidinhos.  
    

(Falta acresentar acontecimentos de muitos anos)