MEU CALVÁRIO
Queria nesta cruz, ser o teu cristo
No teu peito agonizar em devaneios
E minhas mãos cravadas no crucifixo
Fossem transpassadas por teus seios.
Fossem eles, dois montes calvários
Por onde demoradamente eu subiria
E na maciez desse caminho imaginário
Um rosário de mil poemas recitaria.
Pregar-me-ia bem ao meio do teu peito
Não de costas, como pregaram Jesus
E o sepulcro trocaria por um leito
Invés de fel, vinho tinto ao pé da cruz.
Então teus seios seriam duas taças
De amor e ternura as encheria
E embriagado de vinho e de graças
Ao descer da cruz, entre elas deitaria.
Dar-me-ia ao luxo, nesse calvário
De em cada estação um beijo te dar
Haveria marcas de seios no sudário
E nelas, minhas mãos a acariciar.
Minha ressurreição a cada amanhecer
Seria ao som de La Vie en Rose entoada
Poderia depois, quem sabe, até morrer
Além dessa cruz, não queria mais nada.
Teus mamilos, duas contas de rosário
Que em minhas mãos trêmulas, os traria
Para ao sentir a "morte" nesse calvário
Poder rezar duas últimas ave-marias.
Minha carruagem de subida aos céus:
Uma limusine com champanhe e chofer
Faria dele uma confraria de fariseus
Até Deus se perderia por ti, mulher.