Você
Não hei de falar você
Pois já não é mais você que me lê
É o fim das nuances e das entrelinhas
É o fim dos significados preciosos
Escondidos em ações tuas e minhas
Não hei de falar você
Pois já não é mais você que me escuta
O que antes era destino certo
Agora são apenas linhas em aberto
Para minha enxurrada de palavras
Despejo-me no mundo que,
De areia, absorve-me em silêncio
Não há mais leito rochoso,
O leito de teu rosto a sustentar o meu fluir
E o fluxo errante em meio a águas turvas
Por mais que demore, vai se diluir
Não hei de falar você
Pois já não sei quem você é
Quem sabia ficou no passado
E agora me movo desacorçoado
Pelo ermo desconhecido
Não hei de falar você
Pois essa é a tradução de amor
Que, como quando o ente mais querido
É exposto à fatalidade do destino
Largo-me à companhia da dor
E de agora em diante é assim
Agarro-me ao luto
À luta
A mim