Vôo molhado

Acordo e vejo o céu pausado,

azul como meus olhos encarnados.

Vôo, então, repousando as asas

cansadas dos ventos e das estradas.

Nada me proíbe os sonhos, eu sei,

antes tudo de mim os proíba

e rente pois à terra ressequida,

não vôo nos rasantes que eu mesmo o sou.

Há, sim, fortes ventos

que como tempestades sopram em minhas asas.

e ventaneando é o meu avesso que eu vejo

nas asas tontas do mundo

onde o meu corpo leve e desnudo

plaina sem querer voar.

Então resolvo virar vento,

soprar cuidadoso sobre o corpo do meu tempo,

esperando o futuro para revoar.

Hei algum dia de tocar a lua

e acariciar o sol do céu admirado,

mas de repente chove e eu fico molhado,

as asas cedem,

o olhar molha-se de choro,

eu não mais vôo

e a asa e o anjo vão embora.