O QUE FIZERAM COM MINHA VIDA!
O QUE FIZERAM COM MINHA VIDA!
Abandonada ao nascer
No seu colo não dormi
Mesmo assim pude crescer
Foi difícil, mas consegui
Do meu tempo de criança
Não gosto de lembrar
Só por que não tive infância
Pra na memória guardar
Da vida que lá vivi
Até a minha adolescência
Confesso que não esqueci
Nunca vi tanta incoerência
Não brinquei de boneca
Chiclete não mastiguei
Não pude ser moleca
Nem de bicicleta andei
Divertia-me brincando
Com os bebês animais
Só em vê-los saltitando
Alegrava-me demais
Ordenhei vaca leiteira
Andei de cavalo brabo
Fiz colheita de safra inteira
Andei léguas , quase virei trapo
Cresci assim sem carinho
Escravizada na vida roceira
Quando um dia abri o olhinho
Me vi sem eira nem beira
Até aos dezoito anos
Identidade eu não tinha
Não fazia parte dos números
Da estatística da vidinha
Sem pai não podia continuar
Meu irmão decidiu , então...
A Diná, meu pai vou emprestar
Mas, ele não existe há um tempão!
Sou um caso inusitado
Na história da adoção
Juridicamente confirmado
Filha de pai sem permissão
Dina