caixa de sapatos
Quem se guarda para si mesmo;
quem se guarda para alguém,
esconde alguma coisa.
Quem se guarda para mim;
quem me guarda para si,
quer mostrar alguma coisa.
Então desmontemos os palcos
carcomidos, com insetos
que há na alma.
Meu espírito é uma caixa de sapatos
com cartas e retratos
antigos.
Desfaçamos a maquilagem
dos rostos melancólicos
que restaram
da última ceia.
Meu coração é o sapato daquela caixa.
Se já não vemos o azul do céu;
se já não sentimos os pés no chão,
a culpa não é do espelho
e nem das cordas da guitarra
que eu não tenho.
Se acreditam ainda nos jovens
como o futuro da nação;
se ainda temos no peito
a fumaça de um depois da álgebra,
continuamos na mesma.
Somos como cartas e retratos antigos
dentro de uma caixa de sapatos.