A HISTÓRIA DE UM JARRO DE CRISTAL
Na mesa um jarro de cristal
Objeto de beleza colossal
Havia dias que ali circundavam-na
Dois amigos socialistas
Companheiros de indeléveis lutas
Parceiros de sonhos juntos
Construção de um mundo justo
Sonhos atirados aos ventos
Na calmaria bucólica do cerrado
Ou nos dias fustigantes da urbe
Eis que num impulso súbito e frustrante
Um dos amigos revelou-se de vez
Espírito de rara pequenez
O luzidio discurso socialista
Dissolveu-se no fazer capitalista
Posturas agressivas e populistas
Escravo das mentiras cotidianas
Trabalho de faz-de-contas
Turista político oficial
Frágil tal qual o jarro de cristal
E o outro sentiu-se acabrunhado
Servo de um sistema bruto
Retraído no seu canto diminuto
Descobriu-se meio anarquista
Desejou-se inteiro niilista
E o jarro de cristal caiu ao chão
Os cacos se espalharam.