O Andarilho
Eu não sei para onde ir.
Eu não sei o que sinto.
O pulsar nas minhas veias
e o crucifixo do filho de Deus Jesus,
no meu peito, a roçar meus
pelos que florescem de minha
pele como tufos de grama
crescem sobre covas.
Não tenho com quem
discutir para onde estou indo.
Encho a bolsa com meus
poucos pertences.
Fumo um cigarro e
sinto o cheiro de bosta do banheiro
e isso revolta as minhas células.
Saio como um herói
pela estrada sem saber
se a morte, uma mulher ou
talvez a sorte da minha vida,
estão na próxima esquina
a me esperar.
Ando como o pulsar do
meu coração manda.
Seja nas cidades abarrotada
de vazio, ou nos campos
repletos de pensamentos
solitários.
Mas eu sei que os homens livres
são aqueles que fazem o que
para eles tem de ser feito.
Então eu mais uma vez
caminho desconfiado,
trazendo desconfiança.
Bebendo sangrias em
praças e rodoviárias.
Sem casa para onde ir.
Sabendo que o teto azul
daquela marquise, vai ser
para mim uma tela de cinema,
por onde todas as pessoas
que amo ou amei, lugares
e músicas que ouvi, farão para
mim um filme que fará deste
dia difícil e de adoecer
se parecer perfeito.
Segurando a cruz como
um filho segura o dedo
do pai quando pequenino,
durmo um sono solto.