Eu Não Sei Chorar Pequeno
Eu não sei chorar pequeno
não sei rolar a furtiva lágrima
que o lenço branco secaria.
A água que sai dos meus olhos
é enchente soluçada.
Eu não sei sentir devagar
e permitir somente o comedido,
ocultar os atos incontidos
sob o manto leve da elegância.
Não estanco os nervos em hemorragia,
por que não sei como o fazer.
Eu não sei amar ameno
começar devagar,
divagar antes de mergulhar...
Manter a vontade em segredo,
que nem a tortura ou o medo
faria o olhar revelar
naquela singela lágrima,
que eu não aprendi a chorar.
Sou terremoto
ventania, furacão.
Sou mar em fúria,
deserto de Atacama,
fome na Etiópia,
neve na Sibéria.
Por que eu não sei chorar pequeno,
nada em mim é ameno.
E mesmo a dor que ora vai nas veias
corrói o sangue e destrói as artérias...
Me torna matéria amorfa,
bola de carne jogada ao chão.
E as hordas assassinas
de auto comiseração
– qual vermes em um cadáver –
dão cabo ao que restou.
Mas também não sei aceitar o fim...
Não um final tosco assim.
Mais que ter pena de mim,
vou reerguer a massa morta,
resignificar as mitocôndrias,
colar os ossos e ficar em pé.
Erguer o calcanhar esquerdo
pra dar o passo no firme chão.
Mirar o foco:
“A Caminho da Santificação”.