CALENDAS
Quando não estou, que esteja faltando. Nunca em falta.
Que me saibam perdido numa qualquer selva de palavras,
perambulando absorto pelos seus labirintos,
e colhendo frutos mágicos aos sentidos.
Tão entregue ás suas carícias, tão embrenhado nelas,
que seja fácil adivinhar-me esquecido de mim,
assim, alheado dos caminhos de tudo o mais.
Ou então
que me imaginem em plena batalha, cansado,
teimando naqueles gestos e floreios
do espadachim que acredita na elegância do combate.
Procurando vitórias merecidas e sem culpas,
num acrescentar de cicatrizes e satisfações.
Podem até pensar-me farto, saturado dos detalhes dos dias
e das estratégias, em vertigens de momentos
e correrias de sangue grosso nas veias.
Só não me presumam alheio.
Só não pensem que não me importo,
e que olho o calendário com a indiferença fria
de quem não lhe deve obrigações.
Felicidades, eu desejo sempre.
E até ver chegado aquele momento sem volta,
onde o último segundo se curva no horizonte
e se perde num pretérito mais que perfeito,
eu mantenho de prontidão no peito um grito.
É de Feliz Natal para todos, sem exceção.
Dez 2008