CALENDAS

Quando não estou, que esteja faltando. Nunca em falta.

Que me saibam perdido numa qualquer selva de palavras,

perambulando absorto pelos seus labirintos,

e colhendo frutos mágicos aos sentidos.

Tão entregue ás suas carícias, tão embrenhado nelas,

que seja fácil adivinhar-me esquecido de mim,

assim, alheado dos caminhos de tudo o mais.

Ou então

que me imaginem em plena batalha, cansado,

teimando naqueles gestos e floreios

do espadachim que acredita na elegância do combate.

Procurando vitórias merecidas e sem culpas,

num acrescentar de cicatrizes e satisfações.

Podem até pensar-me farto, saturado dos detalhes dos dias

e das estratégias, em vertigens de momentos

e correrias de sangue grosso nas veias.

Só não me presumam alheio.

Só não pensem que não me importo,

e que olho o calendário com a indiferença fria

de quem não lhe deve obrigações.

Felicidades, eu desejo sempre.

E até ver chegado aquele momento sem volta,

onde o último segundo se curva no horizonte

e se perde num pretérito mais que perfeito,

eu mantenho de prontidão no peito um grito.

É de Feliz Natal para todos, sem exceção.

Dez 2008

Henrique Mendes
Enviado por Henrique Mendes em 14/12/2008
Reeditado em 14/12/2008
Código do texto: T1335271
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