PASSANTE

quis sonhar nu poema

uma outra idéia de braço

que não mova nem cegue em mim o momento

desesperado tenor que inaugura o aplauso

olho por olho

rajadas de néon encomendadas no camelô

armaram um altar e formas de ataques

para cercar meu coração que dorme

ao som e ao silêncio de canções de atabaques

menina na forma de outra qualquer maria

carrega vontades e apela em segredo uma oração

envolto em caixas de fraldas encaixo em freud

meu suplício minha última prece

o indulto do defunto

cai a noite e nela converto-me em corpo de braile

estudo o som e a água mas falta-me a necessidade de irmãos

minha mão repele o farto abraço

meu banquete é servido diet e sem beijos

espio a morte que dorme sem brado e sem glória

concedo-lhe sem entusiasmo meu apoio e minha fé

mas ela exerce uma espécie de férias sobre mim

roendo seu resto a dor empala na minha alma o silêncio da paisagem

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 11/12/2008
Reeditado em 19/08/2013
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